A Guerra Total e o Equilíbrio de Forças, 1914-1918

Estratégias das Duas Coalizões e Disponibilidade de Recursos Militares e Econômicos de Cada Uma

  • ESTADOS UNIDOS: publicamente neutros, porém próximos à Grã-Bretanha e à França, por parcerias comerciais.
  • JAPÃO: aliança com a Grã-Bretanha.
  • ITÁLIA: neutra em 1914. Passa para o lado da Entente (1915), sem trazer muitos benefícios para a aliança, pois era fraca militar e economicamente.
  • IMPÉRIO OTOMANO: ao entrar na guerra ao lado dos impérios Centrais, passa a prejudicar a Rússia, em virtude do bloqueamento dos estreitos que possibilitava o escoamento da produção russa de cereais.
  • IMPÉRIOS CENTRAIS: superioridade industrial e tecnólogica. No caso da Alemanha, ótima infraestrutura (ferrovias e comunicações) e facilidade de recrutar soldados.
  • FRANÇA E RÚSSIA: dificuldades de coordenar estratégias em virtude da enorme distância entre os dois países.
  • INGLATERRA: bloqueia o Mar do Norte e na costa ocidental age como guardiã dos Aliados nos mares, permitindo-lhes abastecimento, muitas vezes oriundo das colônias. Podia fornecer empréstimos e munições ao países da sua aliança, por possuir um vasto império colonial around the world.

Os Aliados possuíam uma notável superioridade naval, a qual garantia a manutenção da comunicação no Mediterrâneo e no Mar do Norte. Isso foi parcialmente comprometido a partir do uso de submarinos pela Alemanha e da entrada do Império Otomano ao lado da Alemanha e Áustria-Hungria.

A Alemanha tinha vantagens específicas: o grande avanço sobre Bélgica e França foi mantido (fracasso do plano francês XVII) e a eficiente mobilidade das tropas da frente ocidental para a orienta, graças à boas ferrovias alemãs, aliado ao avanço lento das tropas russas na Oeste.

  • Os dois primeiros anos da guerra significaram uma tentativa da França e da Rússia de conter o poderio alemão.
  • Na questão econômica, o deslocamento de capital para a a indústria bélica aumentou de aproximada 4% (antes da guerra) para 25 a 33% (na guerra total). Nesse ponto, Itália e Áustria-Hungria eram as mais fracas, sendo amparadas por seus respectivos aliados.
  • O três impérios mais frágeis na guerra eram, portanto, o Austro-Húngaro (à sombra da Alemanha), o Império Russo (com uma série de dificuldades) e a Itália (incapaz de defender-se sozinha).

A Rússia foi a primeira a esfacelar-se. Causas: 1) ataques constantes dos alemães nas suas fronteiras e alguns ataques austro-húngaros também; 2) por estar isolada (não podia exportar nem abastecer-se) pela Turquia; 3) falta de infraestrutura; 4) questões políticas internas: czarismo e suas precária gestão dos recursos; 5) problemas econômicos (inflação); 6) problemas sociais (greves e contestações à guerra) e 7) problemas militares (perdas humanas imensas e a consequentes deserções.

“é simplesmente uma massa enorme, cansada, andrajosa e mal alimentada de homens enraivecidos, unidos pela sede comum de paz, e pela decepção geral.” (STAVKA)

Os Impérios Absolutistas da Europa Central e Oriental

Texto do livro “Introducción a la Historia Contemporánea 1770-1918” de José U. Martínez Carrera

Segunda metade do século XIX > Europa dividida

Europa Ocidental

  • Liberalismo
  • Grã-Bretanha, França, Espanha, Portugal + Novos Estados: Bélgica e Itália

Europa Central e Oriental

  • Monarquias Tradicionais
  • Áustria-Hungria, Rússia, Turquia

Década de 70: Alemanha Imperial >  Bismarck < influência dos dois modelos

1. O IMPÉRIO AUSTRO-HÚNGARO

– grande potência européia que emergiu após o Congresso de Viena (1815)

– imensos territórios e povos com o coração em Áustria

– manteve-se praticamente intacto durante as Revoluções de 1830 e 48.

Problemas Externos: hostilidades com a Rússia (Leste) e com o Império Turco (Bálcãs)

Problemas Internos: heterogeneidade dos povos da Europa Central (nacionalidades) e rivalidade com a Prússia.

Apêndice 1 – Os Povos e as Nacionalidades
  • os vários povos do Imp. Austríaco formavam diversas nacionalidades dentro da estrutura imperial-estatal.
  • GERMANOS: predominantes (alemães e austríacos)
  • MAGIARES: mais unidos e diferenciados, queriam a formação de uma nação húngara independente.
  • ESLAVOS: fragmentados: Sul, tchecos da Boêmia, polacos da Galícia e eslovacos;  Norte, eslovenos, croatas, sérvios, dálmatas.
  • ROMANOS: região da Transilvânia.
  • ITALIANOS: latinos e católicos, ao sul do império na região de Trento e Triste.
  • aos poucos os povos foram adquirindo certa autonomia interna através das aspirações nacionalistas. Exemplo: 1867, a consolidação da monarquia dual, sendo a Hungria uma coroa com administração própria.

– crescimento econômico: Áustria torna-se uma potência econômico-industrial.

– desenvolvimento das ferrovias que ligavam a Europa Central e Ocidental à Europa Mediterrânea e Oriental.

– abolição da servidão > êxodo rural > para países industrializados  e América

– aumento populacional: devido à paz interna, melhoras no saneamento e alimentação.

– crescimento da burguesia e classes médias, trabalhadores individuais e urbanos.

– desenvolvimento industrial (1860-70)

*produção de ferro (Morávia-Silésia)
*metalurgia e siderurgia (Estíria)
*porcelana e vidro (Boêmia)
*indústria têxtil (Boêmia e Morávia)

– início do século XX: Áustria era a quarta potência econômica industrial da Europa.

– sistema conservador-autoritário de equilíbrio, baseado na afirmação de uma monarquia dual (para resolver a questão das nacionalidades) + tradição, exército e Igreja Católica.

– após 1867, Áustria-Hungria vive um período de paz interior, graças ao desenvolvimento econômico propiciado pelo progresso da burguesia no império e por discretas reformas políticas do tipo liberais, principalmente em Áustria.

– no campo das Relações Internacionais (de 1867 a 1914), amizade cada vez mais consolidada através de alianças e acordos com Alemanha e uma rivalidade acentuada com Rússia na questão dos Bálcãs.

“En el campo de las relaciones internacionales, el Imperio de Austria-Hungría estaba sujeto a una diplomacia limitada tanto en el aspecto financeiro como administrativo […] tanto por cuestiones internas como por necesidades externas, se halló dominada por la iniciativa diplomática de Alemania.”(CARRERAS)

2. O IMPÉRIO RUSSO

– Segundo maior império europeu que emerge durante a segunda metade do século XIX através de uma política expansionista.

– império pluriterritorial e multinacional.

  • Países Russos Propriamente Ditos: Rússia, Ucrânia e Rússia Branca.
  • Territórios Incorporados na Europa Báltica e Central: Estônia, Letônia, Lituânia, Finlândia e Polônia.
  • Territórios Sulistas disputados com a Turquia: zona do Mar Negro, da “Besarabia” e Criméia ao Cáucaso.
  • Ásia Setentrional: Sibéria.

– Nacionalidades:

  • eslavos e ortodoxos (maioria)
  • russos, ucranianos e russos brancos (Rússia Ocidental e colonizadores da Sibéria)
  • povos não-eslavos nem ortodoxos (poloneses, por exemplo)
  • católicos (minoria)
  • finlandeses (protestantes)
  • turcos
  • muçulmanos
  • povos asiáticos (mongóis, iranianos, caucasianos, budistas)
  • judeus
  • germânicos

– Linhas geopolíticas de incorporação de territórios:

  • As Ventanas da Rússia: frente ocidental do Báltico ao Mar Negro (incorporação de Finlândia, Polônia e Países Bálticos), ocasionando rivalidades com Áustria e Turquia.
  • Territórios entre os mares Negro e Cáspio: incorporação de Cubão (?), Daguestão, Geórgia e norte da Armênia para construção de ferrovias transcaucasianas.
  • Ásia Central e Turquistão: Tachkent, Samarcanda e Merv, também para a construção de ferrovias.
  • Ásia Setentrional e Sibéria rumo ao Oriente Médio e Pacífico: construção da ambiciosa ferrovia transiberiana (1892-1904). Cessão do Alaska em 1867 para os Estados Unidos.

– Dificuldades do imenso império Russo:

  • insuficiente acumulação de capital diante de uma sociedade ainda arcaica (essencialmente agrária e quase feudal) e de um incipiente (e também insuficiente) mercado nacional.
  • atraso econômico pelo tardio desenvolvimento da infra-estrutura (ferrovias e demais investimentos em transportes) e da rede bancária.
  • sociedade muito polarizada entre uma oligarquia aristocrática (minoritária e dominante) e uma grande massa rural e ainda servil (miserável e analfabeta)
  • até a metade do século XIX, o setor metalúrgico (Ural e São Petersburgo) era ainda muito primitivo enquanto que o setor têxtil (Moscou e Volga) era um pouco mais emergente.
  • a partir da segunda metade do século XIX a economia russa começa a expandir-se, porém se verificam desajustes entre o ritmo de crescimento industrial e o agrícola.

– Principais modificações no cenário de expansão da economia russa depois de 1860 aproximadamente:

  • crescimento populacional (chegando a 100 milhões de habitantes)
  • avanço industrial
  • incremento das redes de transporte e comunicações
  • constituição de um mercado consumidor interno (com a abolição da servidão)
  • investimentos estrangeiros na economia.
  • formação de uma elite cultural – intelligentsia

– Política no Império Russo: caracterizada pelo domínio da Dinastia Romanov no século XIX.

  • Nicolau I (1825-1855): introdução do liberalismo e repressão das contestações oriundas da Primavera dos Povos.
  • Alexandre II (1855-1881): reformista, em primeiro momento; depois, centralizador.
  • Alexandre III (1881-1894): reforço da autoridade e centralização, ultraconservador.
  • Nicolau II (1894-1917): tentou manter a política conservadora do seu antecessor, porém diante das tensões oriundas da derroba russa nas guerras contra o Japão e das mudanças sociais da virada do século (surgimento de uma classe burguesa forte, fortalecimento da esquerda, descontentamento das classes inferiores, etc) foi incapaz de levar a dinastia adiante – Revolução Soviética.

3. O IMPÉRIO TURCO OTOMANO

– Império asiático-muçulmano influente sobre a região balcânica e de velhas estruturas absolutistas e despóticas como o Austro-Húngaro e o Russo.

– As bases geohistóricas do conflito euro-oriental estão situadas em três importantes pontos com imprescindível compreensão no século XIX até a Primeira Guerra Mundial:

  1. Situação Interna do Império Turco: imenso império situado em três continentes, tendo o Mediterrâneo Oriental como centro – Ásia Ocidental, África do Norte e Europa Oriental. Além da questão da extensão territorial, podemos apontar o atraso das instituições em relação às demais potências européias, disputas internas por questões religiosas, exército fraco e mal preparado além de má administração.
  2. Ação dos Povos e Nacionalidades Balcânicas: a grande diversidade cultural possibilitou a configuração de movimentos emancipacionistas visando à criação de novos Estados: gregos, croatas, sérvios, húngaros, romanos e búlgaros, por exemplo.
  3. Intervenção Exterior por Parte das Potências Européias: por ser uma zona estratégica, as nações européias preocupavam-se em influenciar os Estados que iam surgindo do gradativo desmembramento do Império Turco-Otomano.
  • Áustria: interessada na saída pelo Mar Adriático.
  • Rússia: procura anexar territórios do centro e oriente do Império a fim de influenciar as populações eslavas da região.
  • Inglaterra e França: procuram apoiar a Turquia para que o Império não se fragmente, temorosos do avanço russo e preocupados com o Mediterrâneo e Canal de Suez.

– A partir dessas bases se desencadeiam todos os problemas conhecidos como Questão do Oriente, que vão desafiar as relações internacionais durante todo século XIX (incluindo aí a Independência da Grécia e a Guerra da Criméia) culminando, mais tarde, nos conflitos causadores da Primeira Guerra Mundial.