Ficha de Estudos – História das Relações Internacionais II – Prof. Paulo Gilberto Fagundes Vizentini
PREPARANDO A GUERRA: A “PAZ ARMADA” (1904-1914)
AS MASSAS NA POLÍTICA – NACIONALISMO E SOCIALISMO
- as migrações da segunda metade do século XIX deram-se principalmente da Europa para as colônias de povoamento, para a região platina e para os EUA;
- formação de uma sociedade de massas e o surgimento de novos fenômenos sociais. Ex.: crescente politização do proletariado e também das classes médias.
- fatores que colaboraram: secularização do ensino e popularização da imprensa;
- o crescimento do nacionalismo como sentimento de pertencença deu-se pela associação de trabalhadores com a burguesia dos seus respectivos países.
- nova ideologia: orgulho de meu país ser uma potência e defendê-lo da nação rival.
- aceitação do colonialismo por parte da população européia.
- modificações no movimento operário: surgimento da aristocracia operária, trabalhadores especializados, logo, mais com uma concepção mais pacífica de transformação lenta e gradual do sistema capitalista.
A GEOPOLÍTICA E OS PROJETOS ESTRATÉGICOS
O surgimento da Geografia Política se dá com o alemão Friedrich Ratzel em 1897, que defende a tese de que o “solo” é imprescindível para um Estado forte e, isso, de uma certa forma, também “justifica” o imperialismo da época.
Como compreender tudo aquilo que há de estéril numa luta em que o poder político é o único objetivo e onde a vitória, de qualquer lado a que se volte, deixaria entretanto as coisas quase no mesmo estado em que se encontravam antes? Tratados que não têm por efeito repartir esse poder em conformidade com a situação respectiva dos Estados, não são nunca senão expedientes diplomáticos sem duração. Ao contrário, a aquisição de um território novo, ao obrigar os povos a empreender novos trabalhos, estendendo seu horizonte moral, exerce sobre eles uma ação verdadeiramente libertadora. (RATZEL, O Solo, a Sociedade e o Estado)Na mesma linha, o inglês John Mackinder cria uma teoria justificativa para os ingleses que, mais tarde, viria a ser usada pelos americanos, a qual considera duas partes: Heartland (coração continental eurasiano) e World Island (a ilha mundial, recoberta por um único oceano). Anos mais tarde, adaptou sua teoria criando um terceiro conceito: o de Midland Ocean, englobando todas as potências marítimas (os EUA sendo uma delas).
Cada potência passou a adotar, no contexto pré-Primeira Guerra Mundial, uma concepção geopolítica conforme suas necessidades históricas.
ALEMANHA: expansão para o Leste Europeu e Oriente Médio. Ações: aliança com Áustria-Hungria, pangermanismo, investimentos no petróleo turco, construção da ferrovia Berlim-Bagdá.
INGLATERRA: destruição da capacidade comercial e naval alemã, queria apoderar-se do Império Turco e dividir as colônias da Alemanha com os franceses.
FRANÇA: recuperação de Alsácia-Lorena, ocupação do Sarre e parte de Renânia, destruição da capacidade industrial alemã e participar da desintegração da Turquia.
RÚSSIA: ampliar fronteiras sobre Alemanha e Império Austro-Húngaro, ocupar Constantinopla, estreitos e parte do litoral turco.
ITÁLIA: posição indefinida. Os Balcãs e o Mediterrâneo Oriental oferecidos pela Tríplice Entente pareceram mais vantajosos, pois os italianos ainda não tinham como obter vantagens no colonolialismo sobre a África.
JAPÃO: queriam colônias alemãs na Ásia, como a península de Chantung e arquipélagos do Pacífico, além de ambições sobre a China, com a queda da dinastia Manchu.
EUA: controle sobre o mar do Caribe, ascendência econômica sobre a América do Sul e Open Doors em relação à China. Passam a adotar uma política de combate a hegemonias e uma discreta hostilidade ao colonialismo.
A CRISE DO IMPERIALISMO E OS BLOCOS MILITARES
1904: criação da Entente Cordiale entre França e Grã-Bretanha; eclode a Guerra Russo-Japonesa.
1905: Rússia é derrotada na guerra contra o Japão; eclode a Revolução Russa de 1905; Primeira Crise do Marrocos: Alemanha tenta desarticular a Entente.
1906: Conferência de Algeciras – fracasso alemão na questão do Marrocos; início do declínio do colonialismo.
1907: Conferência sobre Desarmamento em Haia – Alemanha recusa a proposta da Entente de congelar a corrida armamentista.
1908: Primeira Crise dos Balcãs: Império Austro-Húngaro, apoiado pela Alemanha, anexa a província turca da Bósnia-Herzegovina.
1911: Segunda Crise do Marrocos – Alemanha x Inglaterra.
1912-13: Segunda Crise dos Balcãs: coalização anti-turca (Aliança Balcânica) entre Sérvia, Bulgária, Grécia e Montenegro, liderada pela Rússia x Império Turco. A Tríplice Aliança queria impedir o acesso da Sérvia ao Mar Adriático e da Rússia aos estreitos turco-otomanos. A Sérvia era o reino mais nacionalista e militarizado dos Balcãs e, por isso, a Triple Alliance cria o reino da Albânia em 1912. A Bulgária, apoiada pelo Império Austro-Húngaro, ataca a Grécia e a Sérvia. Romênia, Montenegro e Turquia unem-se aos gregos e sérvios, derrotando os búlgaros. Ambas as tríplices reforçam suas alianças e aumentam seus armamentos.
1914: asssassinato do herdeiro do trono austríaco, Franz Ferdinand, por um estudante bósnio da organização Unificação ou Morte, na Sérvia. Imediatamente a Áustria declara guerra à Sérvia. A Alemanha, então, declara guerra à Rússia e à França e ataca a Bélgica.
A GRANDE GUERRA: DA OFENSIVA AO IMPASSE (1914-1917)
O CONFRONTO EUROPEU: DO MOVIMENTO ÀS TRINCHEIRAS
A estratégia alemã era atacar rapidamente a França, considerando que Grã-Bretanha se mantivesse neutra, para, assim, enfraquecer a Entente e, logo, voltar-se também para a Rússia. Para tanto, ocupou imediatamente a Bélgica e o Luxemburgo, a fim de, através destes territórios, invadir a França, tomando as ricas regiões da fronteira franco-alemã (Plano Schiliffen). No entanto, a Inglaterra declarou guerra à Alemanha, devido à invasão na Bélgica e a Rússia mobilizou imediatamente seus exércitos.
- Alemães avançam sobre a França pelas fronteiras belgas, ameaçando tomar Paris. Inglaterra envia tropas à região para a defesa de França.
- Russos lançam-se contra a Alemanha na Prússia Oriental.
- As tropas que avançavam sobre Paris migram para o Leste em contra-ataque à Rússia.
- Império Austro-Húngaro ataca a Polônia russa.
- Russos contra-atacam Áustria-Hungria na Polônia oriental.
- Alemães lançam-se à Polônia em defesa dos austro-húngaros.
- Franceses aproveitam a redução de tropas alemãs e contra-atacam próximo a Paris.
- Alemães recuam para o norte (Corrida para o Mar) a fim de atingir o canal da Mancha e cercar os inimigos em Flandres. Fracassou.
- Turquia adere à Tríplice Aliança, pelos seus desentendimentos com Rússia.
- Japão adere à Triplice Entente, visando à conquista das colônias alemãs na Ásia.
- Percebe-se, em termos de diplomacia, que a Tríplice Aliança era mais coesa em objetivos que a Entente.
- Fins de 1914: guerra de posições.
- A Entente estava mais bem preparada financeira e militarmente, por suas amplas possessões coloniais, potencialidade naval inglesa, além do apoio indireto (financeiro e comercial) dos EUA.
- Russos conquistam os montes Cárpatos.
- Alemães expulsam os russos da Polônia e Lituânia.
- Alemães lançam uma ofensiva na Flandres belga, atacando tropas anglo-francesas com armas químicas (balões de gás cloro).
- Alemães atacam franceses com artilharia e com lança-chamas.
- Russos atacam austro-alemães na Galícia, sem muito sucesso.
- Alemães recuperam a região tomada pelos russos.
- Romênia declara guerra à Áustria e à Alemanha (1916).
- Anglo-franceses atacam no rio Somme usando aviões (primeira vez), gás, projéteis químicos e tanques de guerra contra alemães.
- Alemanha tenta um acordo de paz para manter regiões conquistadas.
- A Entente nega o pedido de pacificação.
- Alemanha ameaça iniciar a guerra submarina (1917).
AS FRENTES SECUNDÁRIAS: BALCÃS, ORIENTE MÉDIO E MUNDO COLONIAL
Além dos dois fronts principais no continente europeu: o ocidental – na Bélgica e região setentrional da França – e o oriental – nos limites da Rússia com a Alemanha e Áustria-Hungria, havia frentes secundárias em outras partes do globo.
Balcãs: onde se iniciou a guerra
- 1915: Itália tenta avançar sobre a Áustria, mas fracassa; Bulgária ataca a Sérvia pelo Sul e forças austro-alemãs pelo Norte; Alemanha e Império Austro-Húngaro tomam a Albânia e Montenegro.
Oriente Médio: situação complexa
- 1914: Turquia declara guerra à Entente em virtude dos ataques alemães nos portos russos do Mar Negro.
- 1915-16: turcos tentam conquistar o canal de Suez, mas fracassam.
- 1916: russos ocupam o norte da Pérsia e a Armênia turca.
- Inglaterra procura uma aliança com os árabes, prometendo a eles libertação com o esfacelamento do Império Turco.
“A modernização econômica introduzida pelos europeus na região serviu para desenvolver as idéias de nação, liberdade e direito à autodeterminação, criando uma base para o nacionalismo e para a independência, preconizada por muitos intelectuais árabes.” (VIZENTINI)
- Inglaterra e França fazem acordos secretos de repartição do Crescente Fértil.
- 1917: Declaração Balfour – Inglaterra promete aos judeus a criação de um Estado para eles na Palestina.
Mundo Colonial e Mares: ações moderadas
- Inglaterra bloqueia o Mar do Norte para isolar os alemães.
- Navios alemãos tentam ameaçar as rotas comerciais britânicas, mas são derrotados em batalhas nas ilhas Coronel (perto do Chile), Falklands (perto da Argentina) e Keeling (no Índico).
- Alemanha inicia a Guerra Comercial Submarina.
- Japão declara guerra ao Segundo Reich e conquista: Ilhas Marianas e Carolinas (Pacífico) e porto de Tsingtao (China).
- Austrália invade a Nova Guiné alemã.
- Alemanha derrota os ingleses em batalhas terrestres na África Oriental (atual Tanzânia).