Teorias do investimento internacional

GONÇALVES, R. et al. Teorias do investimento internacional. In: ______ Economia internacional: teoria e experiência brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier e Campus, 2004. cap. 10. p. 199-220.

Investimento de portfólio

  • O determinante básico da teoria do investimento de portfólio é o diferencial de taxas de juros para o capital de empréstimo e de taxas de rentabilidade para o capital de risco.
  • No modelo básico supõe-se que o único fator móvel internacionalmente é o capital e que há diferenças nas dotações de capital entre países, logo, diferenciais nas taxas de remuneração do capital.
  • Quando temos uma situação de perfeita mobilidade de capitais, os movimentos internacionais de capitais são determinados pelos diferenciais nas taxas de juros ou de rentabilidade. WP_20150507_21_33_49_Pro[1]
  • O capital se movimenta internacionalmente como resposta a diferenças absolutas nas taxas de juro ou de rentabilidade – teoria neoclássica.
  • O movimento internacional de capitais é influenciado pela interação de variáveis como expectativas, riscos e incertezas.
  • Expectativas: a substituição do conceito de produto marginal do capital (tradição neoclássica) para o de eficiência marginal do capital (keynesiana) acrescenta a questão das expectativas, através do cálculo da taxa de retorno esperada do investimento. As expectativas de maior relevância prendem-se ao comportamento futuro das taxas de juros e de câmbio.
  • Para o investidor internacional, a taxa de juros relevante corresponde à correção da taxa de juro nominal pela variação da taxa de câmbio.
  • Taxa real de retorno para o investidor doméstico (Rd): (1+r) / (1+P) – 1 , sendo “r” a taxa nominal de juros e “P” a inflação.
  • Taxa real de retorno para o investidor internacional no Brasil (Rb): (1+r) / (1+e) – 1, sendo “e” a taxa esperada de variação cambial.
  • Diferencial aberto de juros (D): referência básica para o investidor estrangeiro no país; o fluxo de investimento é função direta da diferença entre Rb e a taxa de juro internacional (R*)  →  D = Rb – R*. O fluxo é interrompido quando D = 0.
  • O investidor internacional defronta-se com dois conjuntos de expectativas: evolução futura da taxa de juro nominal e o comportamento futuro da taxa de câmbio.
  • Risco: a variável aversão ao risco parece ser uma norma e é importante para determinar fluxos de investimento de porfolio.
    • princípio da diversificação de riscos: aumentando o número de receptores (países, empresas, títulos) nos quais aplicam seus recursos; assim se consegue uma redução da variação da taxa de retorno esperada, logo, menos risco.
    • fronteira de eficiência do investimento: combinações ótimas de taxa de retorno (tx. retorno média esperada) e risco (variância das taxas esperadas em cada aplicação).WP_20150508_20_08_20_Pro[1]
  • Custos de transação: ex ante (custos de ações e tarefas envolvidas nos contratos) e ex post (custos de administração, monitoramento, informação e cumprimento dos contratos).
  • Princípio da racionalidade limitada: os investidores internacionais reconhecem que tem uma capacidade restrita de receber, armazenar informações ou tomar decisões, daí concentram os investimentos em um núcleo central de países ou mercados, e, a partir dele, definem as operações segundo o retorno, o risco ou ambas as variáveis.
  • Liquidez: preferência pela liquidez como comportamento em relação ao risco.
    • modelo de composição de carteira: ativos financeiros com liquidez limitada e ativos monetários com liquidez plena. Ativos monetários não geram retorno, mas tem risco nulo.
  • Perspectivas de crescimento econômico e progresso técnico: pode ocorrer um movimento internacional de capitais na direção de um país com maior dinamismo econômico.
  • Incertezas: afetam o investimento internacional; aumentam quando ocorrem mudanças no aparato regulatório e fiscal; governos intervêm para controlar os efeitos dos riscos no investimento internacional de portfólio e isso gera incerteza nos investidores.

Investimento externo direto

  • A moderna teoria do investimento externo direto (IED) recai sobre a teoria da internacionalização da produção (Stephen Hymer).
  • Uma empresa engaja-se em operações no exterior por três razões:
    1. vantagens específicas: as empresas possuem algumas vantagens que as firmas do país receptor não têm; isso ocorre porque a firma adquire fatores de produção a um risco mais baixo que as outras, ou detém monopólio de uma certa tecnologia.
    2. investimento defensivo: investem no exterior para antecipar-se à competição.
    3. diversificação geográfica de risco: reduzir riscos por meio da diversificação em número de mercados que a firma tem atividades.
  • A determinação teórica do IED deve ser tratada não somente em termos de diferenças entre países (dotações de fatores, logo, diferencial de remuneração) mas também e principalmente de diferenças entre empresas de diferentes países.
  • O investimento externo direto é uma das formas do processo de internacionalização da produção, que ocorre sempre que residentes de um país têm acesso a bens ou serviços originários de outro.
  • A internacionalização da produção ocorre por meio de três formas básicas:
    1. comércio internacional: tem uma relação de complementaridade com o IED em razão do comércio intra-industrial ou do comércio intra-firma.
    2. relação contratual: ocorre quando há transferência de um ativo específico à propriedade, por exemplo empresa japonesa transfere um ativo (patente, marca, tecnologia) para uma empresa brasileira, que passa a produzir o bem no Brasil, através de uma relação contratual.
    3. investimento externo direto.
  • Na exportação e no IED a própria empresa estrangeira produz o bem/serviço, enquanto na relação contratual o agente de produção é um residente.
  • Internacionalização da produção:
    • internalização da produção: através da exportação e do IED.
    • externalização da produção: através da relação contratual.

Teoria da internacionalização da produção

  • Teoria moderna da internacionalização da produção: agentes econômicos de um certo país têm uma preferência revelada pelo mercado doméstico, em razão dos custos de transação envolvidos nas operações internacionais (coordenação, monitoramento etc).
  • Em situação de concorrência perfeita, não há incentivos para a internacionalização da produção; por essa razão a empresa tem que ter uma vantagem específica à propriedade para compensar o custo de entrar no mercado externo.
  • Vantagem específica à propriedade: posse ou disponibilidade de capital, tecnologia e recursos gerenciais, organizacionais e mercadológicos. As empresas que realmente têm vantagens de relevância no cenário internacional são as multinacionais ou transnacionais.
  • Argumento central da teoria: a posse de vantagens específicas à propriedade (que dá à empresa poder monopolístico) é uma condição necessária à internacionalização da produção, mas não suficiente.
  • A internacionalização da produção permite à empresa explorar essas vantagens específicas à propriedade para ampliar seus mercados. Isso ocorre de duas formas:
    1. internalização (exportação e IED);
    2. externalização (relação contratual).
  • A escolha entre internalização e externalização depende dos benefícios e dos custos de internalização da produção.
  • A transferência de um ativo envolve incerteza na razão direta da especificidade e do valor esperado do ativo.
  • Quando o investidor evita relações de maior risco e incerteza, os benefícios da internalização decrescem. Por essa razão a curva de benefício marginal da internalização da produção é decrescente.
  • Problema do agenciamento: o avanço do movimento de internalização significa um custo marginal crescente e assim a empresa precisa lidar com um aumento nos custos de agenciamento, que são as relações empresa-trabalhadores, empresa-mercado de capitais, administradores e proprietários, fornecedores etc.
  • Ponto ótimo de internalização da produção: intersecção entre as curvas de benefício marginal (B) e de custo marginal (C).
  • A escolha do tipo de internalização depende de fatores locacionais específicos: dotação de fatores, tamanho do mercado, potencial de crescimento, clima de investimentos, custo de transporte, barreiras comerciais, infra-estrutura, economias de escala e aparato regulatório.
  • O fator locacional específico mais usado é a política comercial. Exemplo: redução de barreiras num contexto de integração regional pode estimular o IED orientado a um mercado regional mais amplo: foi o que aconteceu na Ásia com a relocalização de empresas japonesas no Sudeste Asiático desde os anos 1970.
  • A escolha da forma do processo de internacionalização depende das vantagens da internalização, que define a escolha entre exportação/IED ou relação contratual.
  • A escolha da forma de internalização, por sua vez, depende de fatores locacionais específicos entre o país de origem da empresa e os países receptores.
  • Maior dificuldade da teoria: estabelecer relações definidas entre variáveis complexas (fatores locacionais específicos, vantagens de internalização e vantagens específicas à produção) que operam em planos distintos (setor, empresa, país) e são heterogêneas (econômicas, sociais, culturais, políticas).

Problema da transferência

  • Envolve um conjunto de efeitos sobre os países decorrentes do movimento internacional de capitais, ou seja, o efeito desse movimento sobre as relações comerciais, sobre o balanço de pagamentos e o nível de renda dos países envolvidos.
  • Efeitos nas relações comerciais: a transferência de capital de um país J para um país B, significa antes de tudo um aumento do poder aquisitivo de B. Parte desse aumento de renda de B é desviado para J em razão do aumento das importações de B de produtos provenientes de J. Isso depende da propensão marginal a importar de B. Há um efeito positivo na balança comercial de J (pela queda das importações, resultado da redução da renda devido à transferência de capital para B e pelo aumento das importações provenientes de B). Como contrapartida, há um efeito negativo sobre a balança de B.
  • Efeitos no balanço de pagamentos: com relação ao BP de J, observa-se que, sendo a propensão marginal a importar de B inferior à unidade, o BP de J apresenta um déficit (diferença entre a exportação de capital e o aumento das exportações para B) e para ajustar o país J reduz seus preços relativos a B, aumentando sua competitividade internacional. Ocorre aí uma piora nos termos de troca (preço de exportações/preço de importações), pois na verdade houve transferência de recursos reais de J para B. Para realizar os ajustes interno e externo o país J recorre a uma política cambial, como desvalorização. O resultado final do BP de J depende do valor da propensão marginal a importar de B e das importações autônomas de B.
  • Efeitos sobre a renda e bem-estar mundial: o investimento internacional reforça a tendência de equalização dos preços dos fatores. No modelo com dois países, o comércio internacional provoca um efeito distributivo a favor do fator abundante em cada país, bem como uma tendência à equalização (convergência internacional) nos preços dos fatores.
  • O investimento internacional pelo país J aumenta o produto marginal do capital nesse país (rico em K) e reduz o produto marginal do capital no país B (pobre em K). Assim, há uma tendência à equalização das taxas de juros no sistema econômico internacional. Sempre que houver diferencial nas taxas de juros haverá incentivo para o movimento internacional de capitais.
  • O comportamento cíclico do investimento internacional e do seu padrão regulatório segue muito mais determinações políticas que econômicas.
  • Restrições à mobilidade internacional de fatores de produção tendem a estimular o comércio internacional, já restrições ao comércio internacional tendem a estimular o movimento internacional de fatores de produção.

 

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