Comércio Internacional

Resumo do cap. 1 do livro A Nova Economia Internacional – Uma Perspectiva Brasileira, de Otaviano Canuto, Reinaldo Gonçalves, Luiz Carlos Delorme Prado e Renato Baumann – Economia Internacional I – Prof. Luis Augusto Estrella Faria

TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

  • as relações econômicas entre os povos antecedem às políticas e culturais pacíficas e atualmente ainda fazem parte de um processo inacabado de organização em um sistema jurídico internacional, aceito pela maioria dos países.
  • evolução da economia internacional: Estado nacional moderno (Absolutista) → mercantilismo → expansão dos países da Pen. Ibérica → conquista do continente Americano → colonização → capitalismo industrial.
  • comércio de longa distância: rede de feitoriais, entroncamentos, cidades, feiras, mercados → garantido pela capacidade bélica (dos comerciantes/soberanos) → dependia de infra-estrutura + segurança de rotas/estradas para a distribuição das mercadorias no interior dos Estados.
  • substituição do comércio de mercadorias exóticas e caras → produtos de grande consumo a preços moderados deu-se apenas graças ao uso da moeda + previsibilidade de instituições que garantissem minimamente a manutenção das atividades comerciais (regras, sistemas de peso e medidas, direito de propriedade, proteção legal etc).
  • entre a Rev. Industrial e a I Guerra Mundial, o mundo passou por um processo de aumento das relações comerciais, que possibilitou uma integração em uma escala até antes não vista.

Mercantilismo – A Economia Política do Estado Absolutista

  • MERCANTILISMO: conjunto de doutrinas de política econômica que acompanharam a consolidação do Absolutismo e dos primeiros Estados-nação europeus. Significou uma reação à ordem medieval, opondo-se ao poder local (nobreza rural) ou da cidade livre, e também ao poder universal (Igreja), ao passo que reforçava o poder do monarca absoluto, defendendo a unificação econômica, jurídica e administrativa nacional. Está amplamente ligado ao nacionalismo, pois embasava-se no argumento de que era preciso reforçar o poder nacional para defender-se de ameaças externas. Esse poder nacional, assim, seria consolidado através de um progresso econômico, criado pela ação política do Estado.
  • riqueza: fonte de poder do Estado → aumenta com o crescimento do estoque de meios de pagamento.
  • moeda: era vista como fator de produção. “Dinheiro” seria uma riqueza artificial, enquanto a “terra”, uma riqueza natural.
  •  John Locke → dinheiro tem duplo valor: 1) em forma de juros, é uma renda anual; 2) por meio da troca, tem caráter de mercadoria. Formas de aumentar a massa de $ em um país: 1) extrair das minas; 2) obter de outros países. comércio exterior + balança superavitária → ↑massa de dinheiro existente → ↑riqueza de uma nação.
  • a moeda/metais preciosos não deveriam ser entesourados, pois desempenhavam o papel de transformar a economia natural em economia monetária. No entanto, muitos países passaram a acumular metais (e adotar leis de restrição à exportação destes), pois acreditavam que a diferença nos estoques de moedas nos diferentes países poderia ser perigosa quando externamente o valor de uma mercadoria era maior que o preço doméstico. Nessa situação, o país com menor estoque de metal precisaria vender os seus produtos ao seu nível de preços e comprar do exterior ao nível de outro país, o qual poderia ser mais alto, e, por isso, precisava de metais para efetuar as trocas sem prejuízo à sua balança comercial.

“[…] pobreza de dinheiro […] acarretará, não obstante, as seguintes desditosas consequências: Primeira, preços muito baixos para nossos próprios produtos; segunda, preços muito altos para todos os produtos estrangeiros; e ambas as coisas nos trarão a pobreza…”  (LOCKE, 1696, pp.19)

  • protecionismo → associado a ideia de proteger a balança comercial, mas proteção essa voltada para a circulação monetária, e não à produção doméstica, pois um país que não possuía minas, só poderia aumentar seu estoque de moedas ampliando as exportações e restringindo as importações.
  • unificação econômica doméstica + liberdade de comércio interna ao Estado nacional: restrição de aduanas e pedágios impostos pela nobreza feudal; racionalização do sistema de pesos e medidas; unificação do regime monetário; redução do poder das guildas; liberdade de indústria etc.

Teorias Clássicas do Comércio Internacional

DAVID HUME

  • crítico do mercantilismo, primeiro defensor do livre-comércio e teórico que serviu de base para o sistema monetário do padrão ouro.
  • Hipótese do Preço-Fluxo de Metais Preciosos (specie flow-price hypothesis): ocorre transferência de metais/moedas metálicas de um país deficitário superavitário e isso gera ↑ preços dos produtos produzidos internamente. O aumento no nível doméstico de preços → ↓exportações → perda de metais preciosos → ↓nível de preços doméstico → ↑demanda no exterior. Assim, o país superavitário vai exportar menos e importar mais, enquanto o deficitário vai exportar mais e importar menos = tendência ao equilíbrio das balanças comerciais.
  • a riqueza de uma nação se dava pela prosperidade do comércio exterior, não pelo aumento do meio circulante tão-somente, mas por atender a necessidades internas dos diversos países que comerciavam entre si.

“[…] A emulação pelas nações rivais serve principalmente para manter a indústria viva em todas elas. E todos os povos serão mais felizes se possuírem uma variedade de manufaturas, que se tiverem uma única grande […] Eu devo, portanto, ousar reconhecer que, não apenas como um homem, mas como súdito britânico, eu rezo pelo florescimento do comércio da Alemanha, Espanha, Itália e mesmo da França. […]”  (HUME)

ADAM SMITH

  • também crítico do mercantilismo.
  • a natureza humana é propensa a trocar/negociar/vender produtos → gera divisão do trabalho → ↑produtividade do trabalho → riqueza das nações.
  • divisão do trabalho = limitada pela extensão do mercado, mas pode ser ampliada através do comércio internacional → ↑riqueza das nações.
  • Teoria das Vantagens Absolutas: cada país deve especializar-se completamente no(s) produto(s) em que tem vantagem(ns) absoluta(s) em termos de custos/produtividade, ou seja, em que o número de horas de trabalho requerido para a sua produção é menor.
  • comércio internacional → permite a um país exportar a mercadoria que consegue produzir mais barato que os demais e importar aquelas que produz mais caro, logo, produz mais dos produtos que faz com maior eficiência e consome mais produtos do que seria capaz na ausência desse comércio.
  • quando um produto qualquer excede a demanda interna, ele deve ser exportado e trocado por alguma coisa que tenha demanda internamente.
  • quando há excesso de produto importado, que foi pago com excedente doméstico, aquele pode ser trocado mais uma vez por um produto demandado domesticamente.
  • metais preciosos são um produto como qualquer outro, logo, país grande produtor de metais é naturalmente exportador desse produto.
  • a liberalização do comércio exterior deve ser feita paulatinamente, para não prejudicar a indústria nascente.

DAVID RICARDO

  • Teoria das Vantagens Comparativas: o comércio bilateral é sempre preferível a uma situação de autarquia para duas economias com estruturas de produção não-similares. Premissas do modelo ricardiano:
  1. comércio de 2 países com 2 produtos;
  2. único fator de produção: o trabalho;
  3. diferença de tecnologia nos 2 países;
  4. balança comercial equilibrada;
  5. custo de transportes = zero;
  6. rendimentos constantes de escala
  • os salários (w) no interior de uma economia seriam sempre iguais. Assim, os preços relativos no interior dessa economia dependem da quantidade de trabalho necessária para a produção de certo bem e não do nível de salário.
  • em países distintos os salários podem ser diferentes, mas mesmo assim é apenas relevante as quantidades relativas de trabalho para produzir, no caso, vinho e tecido (no exemplo usado por ele).
  • as quantidades relativas de trabalho para produzir V e T em cada economia devem ser distintas → condição necessária e suficiente.
  • Ricardo usa o exemplo de Portugal e Inglaterra, já adotado por Smith. Considerando a teoria das vantagens absolutas, Portugal seria absolutamente mais eficiente que a Inglaterra, na produção dos dois bens, conforme a tabela abaixo:


  • o conceito de vantagem comparativa ou relativa permite determinar padrões de especialização e troca. Dado que em economia fechada se verifica uma troca de equivalentes, ou seja, uma equivalência nos valores globais da produção em ambos os bens, pode determinar-se as Razões de Troca Autárcicas (RTA) em cada um dos países: Q – quantidades, C – custos unitários.

  • efetuando-se os cálculos, pode-se observar que Portugal, agora sim, possui vantagens relativas (comparativas) para a produção de vinho, enquanto que a Inglaterra possui para tecido.
  • o modelo ricardiano de comércio internacional implica, portanto, a especialização de cada país na exportação do produto no qual tem vantagens comparativas.
  • o aumento da taxa de lucro da economia não é necessariamente um resultado do comércio exterior, mas vai depender apenas de uma variação nos salários reais.
  • renda da terra + outros fatores → determinam o custo dos produtos de uma cesta de consumo = trigo → determina os salários reais.
  • o comércio exterior impede o uso de terras marginais, logo, mantém a taxa de lucro constante.
  • conclusões: para o modelo ricardiano, mais comércio é melhor que menos comércio, o que não implica necessariamente livre-comércio; ainda, vantagens comparativas não surgem de uma nação autárquica, mas na relação de pelo menos 2 países que comerciam entre si.

A Teoria Neoclássica do Comércio Internacional

  • Modelo Walrasiano de Equilíbrio Geral: foi do qual partiu o modelo de Hecksher. Os preços relativos são determinados por:
  1. dotação de fatores;
  2. tecnologia, na forma de coeficientes de insumo-produto;
  3. preferências dos consumidores.
  • Ohlin: aplicou o modelo de Heckscher no comércio internacional e inter-regional, considerando regiões onde a mobilidade de fatores era perfeita em seu interior, mas imperfeita/inexistente fora delas. Os preços relativos poderiam ser diferentes, pois as regiões possuíam diferentes dotações de fatores de produção, distintas tecnologias e preferências dos consumidores. Mais tarde, Ohlin altera sua abordagem, dizendo que as regiões diferiam apenas na dotação dos fatores de produção, mas possuíam tecnologias e preferências similares.
  • MODELO HECKSCHER-OHLIN: considerava 2 fatores de produção, 2 produtos e 2 regiões que comerciavam entre si. A troca seria baseada nos produtos produzidos relativamente mais baratos em cada região, pois eram esses que demandavam relativamente maior quantidade do fator abundante em termos domésticos.
  • a teoria neoclássica pode ser resumida em 4 teoremas básicos sobre o comércio internacional, os quais são abarcados em um modelo geral conhecido como Heckscher-Ohlin-Samuelson. Em linhas gerais, focam-se nas diferenças de dotações dos fatores de produção e na intensidade do uso destes fatores na produção de diferentes produtos, que varia em distintos países. Tal modelo permitiu o surgimento de outras teorias para explicar a influência disso na distribuição da renda.

1) Teorema de Heckscher-Ohlin

  • 2 países (N e S) produzem os mesmos produtos em um mercado competitivo domesticamente.
  • cada produto utiliza 2 fatores de produção: capital (K) e trabalho (L).
  • a oferta no interior de cada país é perfeitamente inelástica.
  • a tecnologia empregada pelos 2 países é idêntica e tem retornos constantes de escala.
  • cada país tem dotação distinta de fatores de produção. O país S tem maior dotação relativa de L, por exemplo.
  • w = preço de L em S; w* = preço de L* em N. Logo, a maior dotação relativa de L é porque, em autarquia, w < w*.
  • cada país tem padrões de preferência idênticos e homotéticos (semelhantemente distribuídos).

Comércio Internacional e Crescimento Econômico – O Comércio Afeta o Desenvolvimento?

Resumo do artigo da Revista Brasileira de Comércio Exterior Teoria e Política – Comércio Internacional e Crescimento Econômico: o Comércio Afeta o Desenvolvimento?, de Frederico G. Jayme Jr. – Comércio Internacional – Profª. Jacqueline Angélica Hernandéz Haffner

  • para haver crescimento econômico é imprescindível dois determinantes: estoque de capital e investimento.
  • há um consenso sobre como investimentos são indispensáveis para o crescimento, porém não estão claros os efeitos do comércio internacional sobre o investimento.
  • após a década de 80 → países da América Latina:
  1. retorno de fluxos de capital a estes países;
  2. adoção de programas de estabilização macroeconômica e reformas estruturais;
  3. crescimento e ganhos de bem-estar modestos;
  4. instabilidade: ↑ tx. juros, dívida interna/externa ↑, desigualdade salarial, perfomance macroeconômica não-satisfatória.
  • a abertura econômica não provocou um crescimento econômico estável nos países pobres.
  • Brasil → crise da déc. 80 → alto desemprego e concentração de renda.
  • 3 correntes de pensadores sobre comércio e crescimento:
  1. os que defendem que economias abertas tendem a convergir para um estado de crescimento equilibrado mais rápido que as fechadas (SACHS, WARNER, EDWARDS, SRINIVASAN, KRUEGER, BEN-DAVID, KIMHI);
  2. os que argumentam que a abertura atrapalha o crescimento econômico, pois prejudica a indústria nascente e afeta o balanço de pagamentos (TAYLOR, MCCOMBIE, THIRLWALL, BLECKER, HELLEINER, UNCTAD);
  3. os que não acreditam que a abertura estimula o crescimento (RODRIGUEZ, RODRIK, HARRISON, HANSON).
  • dentre a segunda corrente, dos que crêem que o comércio pode prejudicar o crescimento, Thirlwall encontra um meio-termo, apresentando um modelo de crescimento com restrição de balanço de pagamentos, através dos estímulos de demanda através das exportações. Entretanto, o prejuízo causado pelo comércio ainda pode ser verificado quando provoca constrangimentos no BP.

Comércio e Crescimento Econômico – Modelos Tradicionais e Recentes

  • TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS: utiliza-se com maior eficiência os recursos econômicos através do comércio, pois é possível importar bens e serviços, os quais, se produzidos internamente, teriam custos maiores. Assim, engajar-se no comércio internacional traz vantagens comparativas para países em desenvolvimento, porque podem importar bens de capital e intermediários (necessários para um crescimento a longo prazo) a preços inferiores aos produzidos internamente. Dessa forma o país que abriu sua economia vai ter ganhos líquidos de bem estar.
  • a teoria das vantagens comparativas baseia-se no Modelo Ricardiano, que pressupõe algumas condições:
  1. 2 países e 2 mercadorias;
  2. fator único de produção → trabalho;
  3. diferenças em nível de tecnologia;
  4. equilíbrio comercial;
  5. rendimentos constantes.
  • a especialização, segundo a Teoria das Vantagens Comparativas, é, portanto, preferível a uma situação autárquica, pois quando os dos países especializam-se naquilo em que têm menos custos de oportunidade (e, aderindo ao comércio internacional) ambos terão ganhos de bem estar, logo, a economia mundial aumenta.
  • MODELO HECKSCHER-OHLIN (H-O): também conhecido como Modelo de Proporção de Fatores, semelhante à TVC, porém aqui há uma condição específica para a mercadoria em que o país deve se especializar, qual seja, aquela em que se utiliza intensamente o fator produtivo mais abundante internamente. Este modelo pressupõe algumas hipóteses bastante restritivas:
  1. as funções de produção devem apresentar produtividade dos fatores positiva, porém decrescentes, e retornos constantes de escala;
  2. os dois bens devem ser distintos;
  3. a proporção na qual os dois bens são consumidos independe do nível de renda, porque a estrutura da demanda é idêntica nas duas economias;
  4. não há possibilidade de reversão na intensidade do uso dos fatores.
  • MODELO HECKSCHER-OHLIN-SAMUELSON (H-O-S): analisa os efeitos do comércio sobre o emprego e a distribuição de renda e acredita que a liberalização comercial é importante para países em desenvolvimento aumentarem suas taxas de crescimento e salários reais. Tenta, ainda, superar algumas deficiências do modelo ricardiano:
  1. aumenta o número de fatores para dois: TRABALHO(L) e CAPITAL(K);
  2. a dotação de fatores é diferente nos dois países (abundância relativa dos fatores de produção) e nos dois setores (intensidade relativa no uso dos fatores de produção de cada um dos dois bens) , ou seja, não há a mesma proporção proposta no modelo H-O.
  • abundância relativa dos fatores de produção → o comércio é conduzido com base nas diferenças de dotação/estoque de recursos (K e L) nos dois países. Ex.: um é abundante em K e o outro em L.
  • intensidade relativa no uso dos fatores de produção → as tecnologias para a produção dos bens nos dois países são idênticas, porém uma é K-intensiva e a outra é L-intensiva. Eles não podem ser intensivos, ao mesmo tempo, nos dois fatores.
  • a abundância relativa de um fator significa que a dotação de recursos de um país é relativamente mais apropriada para a produção do bem cuja produção seja intensiva no fator mais abundante. Este bem, em autarquia, é mais barato neste país do que em outro, logo, as bases do comércio são as diferenças de preços, que geram ganhos mútuos.
  • com o livre-comércio, há uma aumento na eficiência agregada, mas não necessariamente especialização total no bem a ser exportado.
  • o bem estar aumenta nos dois países, mas não necessariamente para todos os agentes, pois alguns se beneficiam mais (os proprietários de fatores de produção).
  • a somatória dos ganhos dos que se beneficiam supera aos dos que são prejudicados, logo, através do Princípio da Compensação, é possível distribuir os ganhos para todos os agentes que estejam em posição superior, após a liberalização.
  • SRINIVASAN & BHAGWATI: acreditam que a abertura comercial e o livre movimento de fatores e tecnologia contribuem, sim, para o crescimento. A abertura comercial, segundo eles, permite aos países explorar suas vantagens comparativas, o que melhora a eficiência da alocação de seus recursos domésticos.
  • GROSSMAN & HELPMAN:  considera dois países com progresso técnico endógeno, pois, segundo eles, o crescimento econômico se dá com acumulação de conhecimento. Assim, o modelo é baseado em duas economias, onde cada país se dedica a três atividades produtivas: 1) produção de um bem final; 2) produção de uma série variada de intermediários diferenciados; 3) pesquisa e desenvolvimento (P&D). Atendendo às condições, o país vai apresentar uma taxa endógena de crescimento a longo prazo, a qual é relacionada à difusão tecnológica e ao conhecimento. A relação comércio-crescimento possui as seguintes características:
  1. demanda relativa mais forte por bens finais do país com vantagens comparativas em P&D  → ↓participação a longo prazo no nº de produtos intermediários → ↓crescimento de longo prazo da econ. mundial. Quando não há vantagens comparativas em P&D → crescimento de longo prazo independe da demanda relativa por bens finais.
  2. tarifa reduzida de importação/subsídio à exportação sobre bens finais → ↓participação do país em produtos intermediários e em P&D.
  3. ↑a taxa de cresc. a longo prazo da econ. mundial SE o país que pratica a política possui uma desvantagem comparativa em P&D.
  4. um pequeno subsídio em P&D nos dois países (a uma mesma taxa) → ↑tx. cresc. a longo prazo da econ. mundial.
  5. um subsídio em P&D em apenas um dos países → ↑ crescimento de longo prazo deste país SE a divisão do gasto entre os dois bens é CONSTANTE e SE é implementada pelo país que possui vantagem comparativa em P&D.
  • Críticas ao modelo de crescimento endógeno de Grossman e Helpman: 1) desconsideram um aspecto fundamental do crescimento: o investimento; 2) focam apenas em comércio e crescimento, desconsiderando constrangimentos no BP e as instituições (relacionadas ao investimento, grau de confiança de um país etc), por exemplo.

Política Comercial e Crescimento: Estudos Empíricos

  • os estudos empíricos que relacionam comércio internacional com crescimento econômico baseiam-se na ideia de que políticas comerciais agem como se fossem uma proxy para a participação do comércio no PIB de cada país.
  • SACHS & WARNER: analisaram os benefícios da liberalização comercial aliada à implementação de reformas e seus reflexos na perfomance macroeconômica. Concluíram que economias abertas tendem a convergir para um crescimento mais equilibrado mais rapidamente que as fechadas.
  • Para estes autores, um país é considerado de economia fechada se apresenta algumas das seguintes características: 1. barreiras não-tarifárias incidindo sobre 40% ou + do comércio; 2. tarifa média de 40% ou mais; 3. prêmio de 20% ou mais no mercado paralelo de câmbio; 4. economia socialista; 5. monopólio estatal na maioria das exportações.
  • EDWARDS: considerou o crescimento da produtividade em países da América Latina na análise da relação entre política comercial e perfomance econômica. Baseando-se no modelo neoclássico tradicional, Edwards afirmou que havia 2 fontes de crescimento da PTF (Produtividade Total dos Fatores) → inovação doméstica e imitação estrangeira. Para ele, países em desenvolvimento podem desfrutar de inovações técnicas internacionais na medida em que abrem suas economias. Além da PTF, Edwards também considerou distorções comerciais, defasagem tecnológica (catch up term), capital humano, papel do governo, instabilidade política e taxa de inflação, chegando a resultados relativamente satisfatórios sobre a relação comércio-crescimento.
  • alguns autores consideram que a melhor forma de definir as relações entre abertura e crescimento é analisando estudos de caso nacionais, por incorporarem características específicas como variáveis institucionais, padrões históricos etc.
  • outros autores reconhecem a complexidade em se analisar os efeitos do comércio sobre o desenvolvimento, pois a maioria dos programas de liberalização são acompanhados por medidas de estabilização macro e liberalização financeira para a entrada de capitais.
  • outros ainda afirmam que a abertura está longe de garantir crescimento, porque provoca vulnerabilidade externa e níveis mais baixos de crescimento econômico, o que aconteceu na América Latina, gerando principalmente desigualdades de renda.
  • principais problemas ligados à liberalização comercial enfrentados por países como Brasil, México, Chile e Argentina:
  1. com relação à contabilidade das transações correntes: déficit estrutural no balanço de serviços → atrapalha a estabilidade do crescimento.
  2. com relação à conta de capital: fluxos de curto prazo de capitais especulativos + endividamente externo a longo prazo.
  3. com relação ao conjunto de pagamentos: volatilidade de reservas internacionais.
  • FRANKEL & ROMER: incluíram em seu modelo a variável geográfica dos países (proximidade ou não de países populosos, isolamento geográfico etc). As características geográficas são variáveis instrumentais para estimar o impacto do comércio sobre a renda e o crescimento, tomando como indicador o comércio internacional e participação do fluxo total de comércio (X+M) no PIB. Variáveis instrumentais consideradas: 1. comércio internacional: função da proximidade geográfica de um país com os demais; 2. comércio interno. Consideram, ainda, a renda como uma variável dependente. Assim, c0ncluíram que há uma relação entre comércio e renda, pois o volume do comércio dos países não é determinado exogenamente.

Comércio Internacional e Crescimento na Tradição Keynesiana

MODELO DE DOIS HIATOS

  • criado por Chenery e Bruno, em 1962.
  • o hiato de poupança doméstica e o hiato externo explicam o desempenho de crescimento dos países.
  • o hiato externo depende do efeito-renda, negligencia o efeito-preço.
  • condições: país pequeno + condição Marshall-Lerner.
  • a competitividade é a componente mais importante entre as variáveis que afetam contas nacionais (especialmente em países desenvolvidos).
  • os países que crescem mais rapidamente são os que possuem vantagens absolutas em vários bens.

MODELO DE THIRLWALL

  • criado por Thirlwall, em 1979.
  • explica as diferenças entre crescimento de longo prazo, levando em consideração a demanda efetiva.
  • considera que as taxas de crescimento são diferentes porque o crescimento da demanda é diferente entre os países.
  • o constrangimento de demanda mais importante é o balanço de pagamentos.
  • o modelo admite que o crescimento de longo prazo dependerá de: 1) relação entre as elasticidades-renda das M e X, considerando válida a condição Marshall-Lerner; e, 2) preços relativos dos bens comercializados constantes.
  • conclui, então, que o comércio afeta diretamente o crescimento (através da demanda por bens finais) e indiretamente influencia no investimento.

MODELO DE CRESCIMENTO LIDERADO PELAS EXPORTAÇÕES

  • criado por Kaldor na década de 1970.
  • exportações → principal componente da demanda.
  • as políticas expansionistas de demanda têm efeitos cumulativos, pois quanto maior a taxa de crescimento do produto → mais rápida será a taxa de cresc. da produtividade → menor será a tx. de crescimento dos custos unitários → mais rápida será a tx. crescimento das X.
  • a situação acima pode operar ao contrário, quando há restrição de BP e alta elasticidade-renda da demanda em face à elasticidade-renda das X, o que se verifica em países subdesenvolvidos, quando os constrangimentos do BP significam obstáculos ao crescimento.
  • a simples adoção de uma estratégia de crescimento export-led leva a restrições de BP no longo prazo se a elasticidade-renda das importações permanecer inalterada. Se a elasticidade-renda das M é alta, o crescimento de curto prazo pode ser alcançado reduzindo-se o saldo do balanço de conta-corrente, desde que aumente a renda interna e as M cresçam proporcionais ao crescimento da renda. Elasticidades-renda das M altas impedem que a renda cresça sem constranger o BP, o que provocaria uma falha no processo cumulativo. Pior que isso seria caminhar na direção oposta: gera um círculo vicioso, associado à baixa produtividade e crescimento reduzido.
  • A tradição pós-keynesiana conecta o crescimento export-led com a importância da elasticidade-renda das importações, o que significa abarcar também a tradição estruturalista.
  • ambas as abordagens (estruturalista e pós-keynesiana) enfatizam, além do papel das exportações, a presença de uma base estrutural para evitar alta vulnerabilidade externa, que gera obstáculos ao crescimento como déficits no balanço de transações correntes, problemas no balanço de capital  (devido à instabilidade dos fluxos de K).
  • o problema central para o modelo kaldoriano é o constrangimento no BP, o que, segundo tal modelo, pode ser atenuado com crescimento export-led, oferecendo as divisas estrangeiras necessárias para realizar importações essenciais.
  • em suma: modelos de tradições pós-keynesianas/kaldorianos e estruturalista enfatizam papel da demanda efetiva, balanço de pagamentos e políticas governamentais que administrem a demanda como cruciais para o crescimento econômico.

Conclusões

  • Teoria Clássica: insuficiente para definir se comércio gera crescimento.
  • Modelos abertos de crescimento endógeno e Nova Teoria do Comércio: limitados, mas mesmo assim argumentam que a liberdade comercial ainda é preferível ao intervencionismo, que produz falhas de ausência de mercado, processos de retaliação, entre outros entraves ao crescimento econômico.
  • Teorias do comércio e crescimento pós-keynesiana e estruturalista: através de modelos de crescimento demand-led, apresentam as restrições ao balanço de pagamentos como principal obstáculo ao crescimento, mas concluem que o comércio pode gerar crescimento de longo prazo, mesmo com efeitos negativos sobre as transações correntes.
  • balanço de pagamentos → essencial para se analisar o nível ótimo de abertura associado a uma determinada economia.
  • aspectos institucionais particulares de cada país também devem ser considerados para direcionar uma política comercial com vistas ao crescimento e qual o grau de abertura a ser adotado.