Globalização financeira e globalização produtiva

GONÇALVES, R. et al. Globalização financeira e globalização produtiva. In: ______ Economia internacional: teoria e experiência brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier e Campus, 2004. cap. 11. p. 221-236.

Globalização financeira

  • A globalização financeira é a interação de 3 processos distintos mas que ocorreram simultaneamente ao longo dos últimos vinte anos:
    1. aceleração dos fluxos internacionais: incluindo empréstimos, financiamentos e investimentos de portfólio, que cresceram a uma taxa de 17% anual num período de 10 anos, não incluindo empréstimos inter-companhias. Quanto ao investimento internacional, o crescimento de fluxos ocorreu por emissão de títulos (bônus e notas) e de ações.
    2. acirramento da concorrência no sistema financeiro internacional: maior disputa por transações financeiras internacionais envolvendo bancos e instituições financeiras não-bancárias. Passaram a atuar diretamente os grupos transnacionais e os investidores institucionais passaram a adotar estratégias de diversificação de porfolio.
    3. integração crescente entre os sistemas financeiros nacionais: proporção crescente de ativos financeiros emitidos por residentes está nas mãos de não-residentes e vice-versa.
  • Fatores determinantes da globalização financeira:
    • Ascensão das ideias liberais ao longo dos anos 1980, tendo como resultado uma onda de desregulamentação do sistema financeiro internacional, que vinha desde a ruptura do sistema de Bretton Woods.
    • Mudanças institucionais relacionadas à própria dinâmica do sistema financeiro internacional: a instabilidade gerada pelo fim do sistema de Bretton Woods nos países desenvolvidos provocou um processo de inovação e adaptação institucional no sistema financeiro, desenvolvendo novos instrumentos de proteção a riscos e incertezas, como o mercado de derivativos de moedas e taxas de juros.
    • Progresso tecnológico associado à revolução da informática e das telecomunicações: reduziu drasticamente os custos de transação e operacionais em escala global, tornando as operações financeiras mais baratas.
    • Mudanças das estratégias dos investidores institucionais e das empresas transnacionais (ETs) que operam em escala mundial: fundos mútuos, companhias de seguro e fundos de pensão dos países desenvolvidos depararam-se com instabilidade nas taxas de juro/câmbio, além dos próprios limites de expansão dos mercados de capitais e o resultado foi uma nova orientação no sentido de maior dispersão geográfica (aumento dos investimentos cruzados nos países desenvolvidos e penetração em mercados de capitais de emergentes).
    • Políticas econômicas adotadas pelos países desenvolvidos nas últimas décadas: especialmente no que tange à taxa de juro. A partir dos anos 1980 houve aumento nas taxas de juros reais de CP e LP, o que incentivou investimentos financeiros nos mercados de capitais dos países desenvolvidos. A opção dos governos era a restrição monetária, e isso deslocou capitais da esfera produtivo para a financeira. Outro resultado é a financeirização das ETs (parcela crescente dos ativos totais das empresas são ativos financeiros). Contribuiu também a instabilidade e o desalinhamento das taxas de câmbio envolvendo as principais moedas do mundo.
    • Fatores sistêmicos: a globalização financeira é parte integrante de um movimento de acumulação em escala global caracterizado pelas dificuldades de expansão da esfera produtiva real. 1) Países desenvolvidos apresentam menor potencial de ampliação de mercados domésticos e são ricos em capital, logo, há deslocamento de recursos da esfera produtiva para a financeira, contribuindo para a expansão do mercado de capitais doméstico e internacional. 2) houve mudanças nas estruturas produtivas dos países, com base em aquisições e fusões de empresas, que envolveram fluxos financeiros internacionais.

Globalização produtiva

  • A globalização produtiva é também resultado de três processos:
    1. avanço da internacionalização da produção: em termos de inserção produtiva, os mecanismos relevantes são o IED (empresa produz no país hospedeiro) e as relações contratuais (faz um residente produzir). A partir dos anos 1980 houve aumento nos fluxos de IED e das relações contratuais, assim como da atuação das ETs (embora tenha sido cíclico) e depois estes fluxos passaram a aumentar mais que o total da renda mundial.
    2. acirramento da concorrência internacional: não é possível de ser mensurado, mas se verifica uma crescente importância da questão da competitividade na agenda política econômica dos países, o que sugere uma maior disputa no sistema econômico mundial.
    3. maior integração entre as estruturas produtivas das economias nacionais: na medida em que IED, operações de empresas transnacionais e relações contratuais em escala mundial aumentaram mais que o total da renda mundial, verifica-se uma maior integração entre as economias nacionais.
  • Mecanismos que permitem a inserção produtiva dos países na economia internacional, ou seja, globalização financeira: fluxos de IED, operações das empresas transnacionais e das relações contratuais.

Volatilidade e vulnerabilidade

  • O sistema financeiro internacional possui riscos específicos que provocam a instabilidade desse sistema e a volatilidade dos fluxos de investimento internacional, gerando o problema da vulnerabilidade externa.
    • Risco de crédito: incapacidade do devedor de cumprir com suas obrigações.
    • Risco de mercado: perdas decorrentes da queda no preço dos ativos.
    • Risco de liquidação: descompasso de tempo entre uma operação de crédito e uma de débito, ou seja, a contrapartida de uma operação não ocorre.
    • Risco de liquidez: falta temporária de recursos para saldar um débito.
    • Risco operacional: falta de controle ou gerenciamento adequado das transações financeiras.
    • Risco legal: resultado de imperfeições nos mecanismos jurídico e institucional que balizam as operações.
    • Risco sistêmico: quando o sistema financeiro internacional é paralisado por um evento desestabilizador.
  • Causas da volatilidade do investimento internacional:
    • desenvolvimento do mercado de euromoedas nos anos 1960 e sua extraordinária expansão: permitiu aos bancos escapar de restrições nos sistemas financeiros nacionais, facilitando a expansão dos fluxos internacionais de capitais de curto prazo e especulativos.
    • falta de decisão por parte dos governos dos países desenvolvidos sobre a evolução do sistema monetário internacional após o fim de Bretton Woods (1971): incapacidade desses países de estabelecer um novo conjunto de regras, práticas e procedimentos, além da falta de regulação do mercado internacional de moedas e do sistema internacional de taxas de câmbio, desregrado.
    • globalização financeira: a volatilidade está associada em grande parte ao investimento de portfólio de curto ou longo prazo. O IED não é tão volátil, mas possui padrão de flutuação cíclica, que pode se tornar um fator desestabilizador externo para economias nacionais.

Vulnerabilidade das economias nacionais

  • Vulnerabilidade externa: baixa capacidade de resistência de uma economia nacional frente a pressões, fatores desestabilizadores ou choques externos. Possui duas dimensões: opções de resposta com os instrumentos de política disponíveis e custos de enfrentamento ou de ajuste em face dos eventos externos.
  • Vulnerabilidade unilateral: alta sensibilidade a eventos externos, sofrendo de forma significativa as mudanças no cenário internacional, enquanto eventos internos nestes países têm impacto quase nulo sobre o sistema econômico mundial.
  • A volatilidade do investimento internacional se manifesta por meio de mudanças abruptas na quantidade e no preço do capital externo.
  • A vulnerabilidade externa implica em resistência aos efeitos negativos da volatilidade do investimento internacional, através de políticas macroeconômicas tradicionais (monetária e fiscal restritivas) ou controle direto sobre os fluxos de capital, além de políticas cambial e comercial.
  • Mudanças abruptas no investimento internacional tem efeitos sobre as economias nacionais através de três mecanismos:
    1. processo de ajuste das contas externas: está ligado ao gerenciamento das reservas internacionais do país. Turbulência no sistema financeiro internacional afeta fontes de financiamento externo e pode esgotar as reservas no CP, assim o país é forçado a adotar políticas contracionistas (redução do nível dos gastos e mudança na composição dos gastos).
    2. impacto nas esferas monetária e financeira: impacto se dá no mercado de câmbio. A volatilidade do investimento internacional gera maior instabilidade no mercado de câmbio e um desalinhamento da taxa de câmbio. A volatilidade financeira internacional também gera instabilidade no sistema monetário nacional, afetando a oferta de moeda e o volume de crédito interno. Há manifestação de vulnerabilidade externa quando o sistema financeiro doméstico fica com ativos/passivos em moeda estrangeira.
    3. impacto sobre a dimensão real da economia: a volatilidade da taxa de câmbio encurta o horizonte de investimentos, tendo em vista riscos e incertezas, além de custos de transação. A maior volatilidade das taxas de juros, resultado do impacto dos fluxos financeiros internacionais sobre a política monetária, também afeta negativamente os investimentos produtivos, em razão das expectativas alteradas. O impacto mais direto da volatilidade do investimento internacional sobre a vulnerabilidade dos países decorre do aumento do passivo externo de CP, resultante da importância crescente dos fluxos de investimento de portfólio de CP ou de natureza especulativa.

 

Globalização: Notas Sobre um Conceito Controverso

PRADO, L. C. D. Globalização: notas sobre um conceito controverso. IE-UFRJ. 2003.

Introdução

  • ideias importam em relações internacionais, pois legitimam o poder e são sua essência; nesse sentido, o artigo busca analisar a história de uma ideia: globalização.
  • o uso popular do conceito de globalização como expressão de uma mudança econômica produzida pela dinâmica das inovações tecnológicas, sendo simultaneamente fenômeno inevitável e desejável, é impreciso, embora cumpra seu papel de legitimar certa interpretação do mundo.

Definindo Globalização

  • apenas no final da década de 1980 e durante os anos 1990 que o termo globalização passou a ser empregado com dois sentidos: positivo, como processo de integração da economia mundial; e, normativo, prescrevendo uma estratégia de desenvolvimento baseada na rápida integração com a economia global.
  • a globalização pode ser interpretada sob quatro linhas básicas:
    1. globalização como um período histórico: Ramonet afirma que a globalização é a característica do ciclo histórico iniciado com o fim da Guerra Fria; autores como Wallerstein e Arrighi usam o conceito de “sistema-mundo” e também interpretam a globalização como período histórico.
    2. globalização como compressão do tempo e do espaço: autores como Harvey e Giddens; a organização do “espaço” define relações sociais; a liberdade do capital de mover-se por todo o globo dá aos capitalistas uma vantagem sobre os trabalhadores, que têm menor poder de ação em razão de restrições migratórias e custos de mudança. Da mesma forma, “tempo” representa fonte de valor e poder, por isso as empresas capitalistas submetem o trabalho a constantes pressões para reduzir o tempo e aumentar a produtividade.
    3. globalização como hegemonia dos valores liberais: autores como Hirsch e Fukuyama. Para Hirsch, a economia mundial é dominada por três blocos de riqueza (Am. do Norte, Europa e Japão), o investimento estrangeiro direto é concentrado em um número limitado de países, e diferencia empresas transnacionais (realmente internacionalizadas mas em menor número) das multinacionais (cultural e economicamente vinculadas ao país de origem, mas que opera em vários outros). Para Fukuyama, a globalização é a universalização dos valores da democracia liberal e da ordem econômica baseada nos princípios da economia de mercado, cujo exemplo ideal é o norte-americano.
    4. globalização como fenômeno sócio-econômico: Reinaldo Gonçalves afirma que a globalização define-se pela interação de 3 processos distintos – expansão dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais; acirramento da concorrência internacional; maior integração entre os sistemas econômicos nacionais. Para François Chesnay, economista da OCDE, globalização traduz a capacidade estratégica do grande grupo oligopolista em adotar abordagem e conduta globais, relativas simultaneamente a mercados compradores, fontes de aprovisionamento, localização da produção industrial e estratégias dos principais concorrentes.
  • Globalização, para Prado, é o processo de integração de mercados domésticos na formação de um mercado mundial integrado. Toma-se a abordagem da globalização como fenômeno sócio-econômico, o qual é dividido em três processos: globalização comercial, globalização produtiva e globalização financeira.

Medindo a Globalização

Globalização Comercial

  • É a integração dos mercados nacionais através do comércio internacional e pode ser facilmente mensurada.
  • Se o crescimento do comércio mundial der-se a uma taxa de crescimento média anual superior a do PIB mundial, há globalização comercial.
  • Se o fenômeno for exclusivamente regional e explicado por políticas econômicas dos países da região, esse processo é chamado de integração econômica.
  • Primeira onda de globalização comercial (1820-1913): entre o fim das Guerras Napoleônicas e início da Grande Depressão da década de 1930 houve um primeiro período de crescimento da globalização.
  • Segunda onda de globalização comercial (1929-1950): a partir do pós-Guerra, houve um grande clico expansivo da globalização.
  • A globalização comercial, portanto, não é um fenômeno novo.
  • A dinâmica do processo de globalização só pode ser entendida considerando as demais dimensões: produtiva e financeira.

Globalização Produtiva

  • É o processo de integração das estruturas produtivas domésticas em uma estrutura produtiva internacional.
  • É a relação entre a parcela da produção internacionalizada e o PIB mundial.
  • O processo de globalização produtiva se dá:
    • pelo investimento direto internacional e a reinversão dos lucros desses investimentos
    • pela difusão de padrões tecnológicos e modelos de organização industrial
    • pela internacionalização das estruturas de mercado e da competição empresarial.
  • Esse processo está associado a uma estrutura produtiva formada por empresas locais, beneficiando-se de vantagens competitivas tradicionais, usando tecnologia e técnicas desenvolvidas a partir da realidade doméstica, com relativo isolamento da competição internacional, exceto através do comércio exterior. Tais empresas beneficiam-se de oligopólios diferenciados (pela força de suas marcas), oligopólios concentrados (devido a barreiras protecionistas) e de rendimentos crescentes de escala.
  • O comércio internacional reflete vantagens competitivas adquiridas, explicadas por aspectos institucionais domésticos e pela estratégia global das grandes empresas transnacionais.
  • A globalização produtiva é um processo mais recente: aceleração do fenômeno até a I Guerra Mundial, seguido de um retrocesso no Entre-Guerras e de uma grande aceleração no pós-guerra.
  • Diáspora da burguesia cosmopolita: expansão do comércio internacional a partir do fim das Guerras Napoleônicas. Até a década de 1850, o movimento internacional de K era associada principalmente a empréstimos com grande participação dos bancos de negócios britânicos, em sua maioria direcionados a governos ou empreendimentos avalizados pelos governos. Os primeiros investimentos diretos no séc. XIX se destinavam a empresas de infraestrutura (portos e ferrovias). Após 1870, começaram a ser realizados os primeiros investimentos diretos na indústria manufatureira.
  • As estruturas produtivas do século XIX eram fundamentalmente nacionais, a competição se dava pelo comércio e não por uma competição direta através da produção nos mercados nacionais.
  • Crescimento da globalização comercial → revolução nos meios de comunicação → condições tecnológicas para maior integração produtiva internacional.
  • A globalização produtiva só ocorreu, portanto, após o surgimento da moderna empresa industrial (entre 1880 e a Segunda Guerra Mundial), a qual ultrapassa as fronteiras nacionais, mas busca no mercado internacional o controle de recursos que não eram supridos domesticamente. Eram chamadas de ETAs (Empresas Transnacionais Antigas) por Swartz, e operavam muitas vezes em mercados ligados por relações coloniais. Havia baixa articulação internacional, a não ser vínculos de propriedade e comerciais.
  • Após a II Guerra, surgem as ETs (Empresas Transnacionais Modernas), predominantemente americanas, que alteraram a natureza do investimento direto internacional graças a alguns fatores:
    • o tempo e o espaço foram comprimidos pelas melhorias nos transportes e comunicações;
    • a projeção do poder político e econômico americano e o apoio governamental fizeram as operações de empresas no exterior menos arriscadas e criavam um ambiente favorável nos países hospedeiros;
    • durante as décadas 1950 e 1960, as grandes empresas americanas viram-se compelidas a ampliar  seu acesso a mercados em rápido crescimento, como Europa Ocidental e alguns países em desenvolvimento;
    • as empresas se internacionalizaram porque mudanças na tecnologia, estrutura da demanda, política governamental, infraestrutura nacional ou diferenças institucionais influenciavam a competição inter-empresarial de diferentes países.
  • As ETs controlavam a tecnologia e o capital não disponíveis para os novos países independentes da África e Ásia (descolonização), mas estes controlavam o acesso a fontes de matérias-primas (petróleo e outros). Os países grandes exportadores de petróleo do Oriente Médio passaram a ter maior poder de barganha, através da OPEP.
  • O processo mais importante de internacionalização de empresas deu-se no setor manufatureiro, e foram países de maior mercado interno e maior dinamismo econômico os mais beneficiados desse processo.
  • O resultado de como as empresas reagem aos desafios e oportunidades criadas pelas transformações na ordem econômica internacional, pela aceleração do progresso técnico e pela convergência dos níveis de renda per capita nas principais economias industrializadas é o que conhecemos por competição global.
  • A partir da década de 1970 houve menor regulação dos investimentos internacionais, gerando oportunidades crescentes às empresas transnacionais, porém houve ameaças também crescentes: a maior competição internacional, a velocidade de introdução de novas tecnologias, a rápida obsolescência (e até desaparecimento de certos produtos) obrigavam as empresas a manter alto nível de eficiência e desempenho.
  • Indústrias tradicionais dependiam de mão-de-obra abundante e barata, já que faziam uso de tecnologias estáveis difundidas no mercado internacional ou de fácil aquisição.
  • Indústrias de alta tecnologia dependiam de seu acesso a recursos financeiros e humanos para P&D, da imagem de confiabilidade e qualidade de suas marcas e sua capacidade gerencial.
  • Modelo do Ciclo do Produto: criado por Vernon (1966), classifica um produto em 3 estágios (novo produto, produto maduro e produto padronizado). Havia uma grande distância entre acesso aos conhecimentos científicos contemporâneos e a transformação desses em produtos comercializáveis. Uma vez introduzido o produto (novo produto) em um país industrializado, parte de sua produção alcançava outros países via exportação; logo passa a ser interessante produzi-lo em algum dos grandes mercados consumidores (produto maduro); após ser padronizado e produzido em larga escala com tecnologia difundida (produto padronizado), o principal fator para localização da produção é o custo dos fatores e o o que determina os custos é o preço da mão-de-obra.
  • Modelo dos Gansos Voadores: criado por Akamatsu (1962), descreve o processo de realocação das indústrias do país mais avançado para outros, através do comércio internacional e do investimento, o que ocorre por mudanças de competitividade. O investimento internacional levaria a uma divisão internacional do trabalho graças à difusão da tecnologia, o que permitiria aos países seguidores produzirem parte dos produtos desenvolvidos pelo país-líder, empregando a mão-de-obra mais barata que esses países ofereciam.
  • Retrospectiva da internacionalização das empresas: empresas americanas (1950’s), empresas europeias (1960’s) e empresas nipônicas (1970’s).
  • As empresas japonesas contribuíram para alterar a competição global, quando a partir da década de 1980 passa a ocupar porções de mercado antes dominadas por empresas ocidentais. Essa participação no mercado era possível porque as exportações de produtos finais não vinham apenas do Japão, mas a partir de várias bases produtivas no Leste Asiático, beneficiando da forte integração da estrutura produtiva naquela região.
  • O produto passou a ser identificado não mais pelo país em que era produzido, mas pela sua qualidade através da marca.
  • As empresas americanas e europeias reagem à ascensão nipônica e ampliam o grau de integração e divisão de trabalho da estrutura produtiva da matriz e suas afiliadas. Organizaram-se em cada mercado em função dos custos locais e da estratégia global formulada no centro de decisão. Qualquer parte da produção, ou mesmo todo o ciclo produtivo, poderia ser feito em um ou mais países em que a filial local fosse competitiva no mercado interno da empresa.
  • Novo padrão de investimento internacional: origina-se da necessidade das empresas de ocuparem espaços estratégicos nos grandes mercados, beneficiando-se das vantagens locacionais para produção e distribuição de seus produtos. As empresas tornam-se atores globais.
  • A globalização produtiva é uma das mais importantes dimensões do fenômeno da globalização.
  • As empresas globais não são apátridas, pois toda empresa está conectada a um determinado país ou conjunto de países, onde se localiza sua matriz e onde se encontra seu núcleo de decisão política. A partir desse núcleo que elas negociam com os governos para projeção de seus interesses estratégicos.

Globalização Financeira

  • É o processo de integração dos mercados financeiros locais (mercados de empréstimos e financiamentos, títulos públicos e privados, monetário, cambial etc) aos mercados internacionais.
  • A dimensão financeira é o aspecto mais importante da globalização.
  • A partir da década de 1970 houve crescimento das transações financeiras crossborder, caracterizadas por dois aspectos:
    1. crescimento da mobilidade da poupança: eficiência relativa do K na alocação intertemporal de recursos;
    2. desenvolvimento de transações que implicam em transferência de risco: internacionalização dos serviços financeiros.
  • Em uma economia aberta, a existência de déficits/superávits em transações correntes e a possibilidade de a conta capital ser superavitária ou deficitária permite uma dissociação entre o nível de poupança e o investimento doméstico dos diferentes Estados nacionais.
  • É fundamental para testar os efeitos da globalização financeira, analisar:
    • a capacidade desse processo de aumentar o nível de financiamento dos déficits em transações correntes na economia mundial;
    • se a globalização financeira tem reduzido a correlação entre poupança e investimento doméstico, ou seja, países com baixa taxa de poupança mas grandes oportunidades de investimento poderiam acelerar sua taxa de crescimento econômico importando poupança.
  • A capacidade de financiamento de déficits em conta corrente é muito menor no período recente do que no anterior à Primeira Guerra.
  • A globalização financeira recente não contribuiu de maneira significativa para aumentar a capacidade de investimento.
  • Paradoxo de Feldstein-Horioka: reforça evidências de que a globalização financeira não contribuiu para aumentar a mobilidade da poupança entre países.
  • Se os mercados fossem completamente integrados, um crescimento exógeno da poupança doméstica deveria ser investido no país que oferecesse a maior taxa de retorno, não afetando necessariamente o investimento doméstico.
  • Os estudos disponíveis mostram que os investidores têm grande preferência por manter maior parte de sua carteira de títulos nos mercados domésticos.
  • Globalização financeira é caracterizada pelo grande crescimento e integração de serviços financeiros em escala global, ou seja, um processo de criação de um mercado mundial integrado de serviços financeiros.
  • Serviços financeiros: atividades dos bancos comerciais, bancos de investimento, seguro, gestão de ativos, além de atividades do mercado financeiro internacional associadas à diversificação de risco (mercado cambial e de derivativos), vendas de produtos financeiros, garantia de transações etc.
  • Derivativo financeiro: instrumento financeiro cujo valor deriva do desempenho de outro ativo financeiro, índice ou investimento.
  • O crescimento dos fluxos internacionais e a desregulamentação dos serviços financeiros internacionalmente vem sendo acompanhada por frequentes crises. Isso oriunda do fim do sistema de Bretton-Woods.
  • Sistema de Bretton-Woods: negociado para reorganizar as relações econômicas internacionais depois da II Guerra, visando a evitar outra grande instabilidade monetária nas tentativas de recriação do padrão-ouro. Baseava-se nos seguintes compromissos:
    1. dólar seria a moeda de referência do sistema;
    2. outras moedas deveriam se manter com regime de taxas de câmbio fixas;
    3. seriam controlados movimentos especulativos na conta capital;
    4. o FMI seria a organização responsável por supervisionar a operação do novo sistema monetário.
  • O sistema de Bretton-Woods enfrentou um trilema macroeconômico: não é possível implementar simultaneamente taxas de câmbio fixas, liberdade de movimento de K e política monetária autônoma (voltada para fins domésticos).
  • Outros regimes de política cambial anteriores a Bretton-Woods: Padrão-Ouro (1880-1914) e sistema de taxa de câmbio flutuante (1918-1925 e após 1973).
  • O sistema de Bretton-Woods, combinado com políticas keynesianas, nos países da Europa Ocidental e EUA funcionou muito bem, viabilizando as maiores taxas de crescimento econômico entre 1948 e 1971.
  • Década de 1970: marcada por uma crise financeira no início da década, pela primeira crise do petróleo (1973) e pela crise gerada pela elevação da taxa de juros americana (1979).
  • Isso levou a mudanças profundas na política econômica dos países:
    • abandono das taxas de câmbio fixas nos países desenvolvidos e progressiva liberalização do movimento de capitais de curto prazo;
    • países em desenvolvimento também realizaram mudanças nas suas políticas econômicas;
    • países socialistas da Europa Oriental passaram gradativamente de economia centralizada para o capitalismo selvagem;
    • desvalorização do peso mexicano (1994-95);
    • economias desenvolvimentistas da Ásia oriental entram em crise;
    • Rússia entra em crise e desvaloriza o rublo → primeira crise econômica pós-socialismo.
    • crise na América Latina com a desvalorização do real e pressões sobre a taxa de câmbio fixa argentina.
  • Conclusão: a globalização financeira foi mais um produto da desintegração do sistema monetário internacional do que um objetivo perseguido por ela.