Mercadorias, Valor, Valor de Uso e Valor de Troca para Marx

HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico. Rio de Janeiro: Campus, 1981.

A preocupação de Karl Marx era explicar as relações sociais e a natureza destas entre capitalistas e trabalhadores, o que equivale analisar em teoria econômica, a relação entre salários e juros. Isso foi analisado no volume I de O Capital.

O capitalismo, segundo Marx é um sistema em que a riqueza constitui uma “imensa acumulação de mercadorias, com uma única mercadoria como unidade”. Assim, ele define mercadoria como:

  1. Algo que, por suas propriedades características, satisfaz às necessidades humanas;
  2. Depositário material do valor de troca.

As qualidades físicas particulares de uma mercadoria definem seu valor de uso, no entanto não há relação, para Marx, com a quantidade de trabalho necessário para a apropriação das qualidades úteis de uma mercadoria.

O valor de troca, por sua vez, era expresso em termos monetários, ou seja, quantidade de mercadoria-dinheiro necessária para se obter a mercadoria desejada. O dinheiro, nesse ínterim, era considerado uma mercadoria especial (expresso em numerários) e funcionava como equivalente universal de troca. Logo, o uso do dinheiro como instrumento de troca diferenciava as relações de troca monetárias das de troca por escambo, por exemplo. Quando se desejava ter muita riqueza em termos de valor de troca, acumulava-se moeda; por outro lado, quando se desejava acumular riqueza em termos de valor de uso, acumulavam-se mercadorias. Considerava-se, ainda, valor de troca um meio pelo qual as mercadorias podiam ser direta e quantitativamente comparadas. O valor de troca, por fim, exigia um elemento comum a todas as mercadorias, através do qual as comparações pudessem ser feitas.

Marx, entretanto, não considerava o valor de uso determinante para os preços, pois as qualidades físicas que davam valor de uso às mercadorias não eram diretamente comparáveis, quantitativamente, ao contrário do trabalho empregado na produção destas, que, sim, era comum a todas as mercadorias. As mercadorias seriam, assim, incorporações do trabalho empregado em sua produção, o que ele definiu como valor. Logo, mercadorias eram valores, onde o trabalho humano está contido, embora o sentido de valor não era o mesmo usado por outros economistas (valor de troca ou preço). Aqui se percebe a maior confusão teórica ao se estudar os volumes I e II de O Capital, em virtude da não-distinção, por Marx, dos termos valor e valor de troca, os quais, para ele estavam claramente diferenciados.  A consideração de preços reais, por exemplo, só vai ser dar no volume III de O Capital, porém o livro não foi concluído. Por fim, Marx afirmava que os valores (ou seja, trabalho incorporado) eram os únicos determinantes do valor de troca, inspirado na teoria ricardiana.

A Crítica de Marx à Teoria Clássica

HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico. Rio de Janeiro: Campus, 1981.

Karl Marx, como economista, foi diretamente influenciado por Adam Smith e David Ricardo, além de apreciador dos escritos de Thompson e Hodgskin, embora também os criticasse. A principal crítica de Marx sobre esses economistas estava na ausência de uma análise histórica nas teorias de tais autores e na falta de se considerar a produção como uma atividade social, que vai ser organizado por ele através dos “modos de produção” pelos quais a humanidade passou/passa: escravista, feudal, capitalista, etc.

Os economistas modernos, segundo Marx, eram incapazes de fazer diferença entre características universais da produção (comuns a todos os modos de produção) e características específicas do capitalismo. Isso levava a duas distorções principais:

  1. Crença de que o capital estava presente em todos os processos de produção: foram os equívocos de todos os economistas anteriores a Ricardo (exceto Hodgskin);
  2. Crença de que toda atividade econômica era simplesmente uma série de trocas: todos os economistas posteriores a Ricardo (principalmente Senior e Bastiat) acreditavam nesta distorção.

A produção exige um instrumento de produção, assim como não há “produção sem trabalho passado acumulado” e o capital é um dos instrumentos da produção (também é trabalho passado materializado). Assim, Marx define capital como “relação eterna e geral da natureza”. Apenas no modo de produção capitalista os instrumentos de produção e o trabalho acumulado eram a fonte de renda e de poder da classe dominante.

Outra crítica de Marx aos economistas era sobre a propriedade ser considerada por eles sagrada e por ter sido erroneamente considerada como uma forma existente de propriedade privada capitalista. Além disso, criticou a separação total feita por Mill entre produção e distribuição, pois, para Marx, havia inúmeras formas de propriedade e cada modo de produção apresentava uma em particular e essas formas de propriedade é que determinavam a distribuição. Logo, propriedade e distribuição não eram independentes.

“Toda forma de produção cria suas próprias relações legais (tipos de propriedade), sua própria forma de governo, etc. Tudo o que os economistas burgueses sabem dizer é que a produção pode ser melhor levada a cabo através do policiamento moderno […] Esquecem-se, porém, de que esse princípio (do manda quem pode) também é uma relação legal, e que o direito do mais forte também vigora em suas ‘repúblicas constitucionais’, só que de outra forma.” (MARX)

Os economistas burgueses, quando aceitavam os direitos de propriedade capitalistas como universais, eternos e sagrados, e viam o capital como sendo comum a toda produção, deixavam de lado as instituições que, para Marx, eram específicas do capitalismo. Desse modo, a explicação de tais economistas estava baseada nas relações de troca, argumentando que eram harmoniosas, promoviam igualdade e liberdade entre os indivíduos “trocadores”.

Marx, entretanto, dizia que essa harmonia resultante das relações de troca era apenas um fato, mas não a causa primeira que levava os indivíduos a permutarem mercadorias. O real motivo eram as diferenças entre as necessidades dos indivíduos e sua produção, ou seja, interesses particulares sem preocupação com o bem-comum. Isso tudo, por fim, estaria embasado nas relações monetárias e na democracia burguesa, as quais camuflam a real desigualdade do sistema através de relações econômicas.

Mercado de Bens e Financeiro: a IS-LM

Resumos do capítulo 5 do livro Macroeconomia – Teoria e Política Econômica, de Olivier Blanchard – Análise Macroeconômica – Prof. Fernando Ferrari Filho

1. O MERCADO DE BENS E A RELAÇÃO IS

  • Equilíbrio do mercado de bens → produto = demanda → Y = Z
  • Demanda = C + I + G
  • Renda disponível → C = Y – T
  • I = S + (T – G)

INVESTIMENTO, VENDAS E TAXA DE JUROS

  • Investimento: gasto das empresas com novas máquinas e instalações → depende de 2 fatores:
  1. Nível das Vendas/ Produção(Y): ↑ Y ↑ I  relação diretamente proporcional;
  2. Taxa de Juros:  ↑ i ↓ I  relação inversamente proporcional.
  • I = I ( Y+, i- )

A CURVA IS

  • Levando em conta a relação anterior (de I), a condição de equilíbrio do mercado de bens é:  Y = C (Y-T) + I (Y, i) + G
  • Produto = Produção = Renda
  • ↑ Y ↑ Z = um aumento do produto leva a um aumento da demanda, mas cada unidade de aumento do produto provoca um aumento menor do que uma unidade na demanda. Por isso, não temos uma reta, mas uma curva.
  • Na prática, a resposta da demanda à produção é menor do que 1 para 1.
  • Um aumento na taxa de juros faz diminuir o investimento; assim, a diminuição do investimento diminui a produção, o que reduz ainda mais o consumo e o investimento. Logo, a diminuição inicial do investimento provoca uma diminuição ainda maior do produtoefeito multiplicador
  • O produto é uma função decrescente da taxa de juros, portanto, a curva IS tem inclinação negativa (clique na figura abaixo).
  • Quanto mais alta a i, mais baixo será o nível de equilíbrio do produto.

DESLOCAMENTOS DA CURVA IS

  • A curva IS se desloca para a esquerda: a qualquer taxa de juros, o nível de equilíbrio do produto será mais baixo do que antes do aumento dos impostos.
  • Para dada i → T↑ Y↓
  • A curva IS se desloca para a direita: a qualquer taxa de juros, o o nível de equilíbrio do produto será aumentado quando, por exemplo, diminuírem-se os impostos, aumentarem-se os gastos do governo ou da confiança do consumidor.
  • Em suma: as alterações de fatores que diminuam ou aumentem a demanda por bens, a qualquer taxa de juros dada, fazem com que a curva IS se desloque para a esquerda ou para a direita, respectivamente.

2. OS MERCADOS FINANCEIROS E A RELAÇÃO LM

  • Equilíbrio: oferta de moeda = demanda por moeda
  • M = $YL (i)
  • Lado esquerdo: oferta de moeda → Ms = M
  • Lado direito: demanda por moeda → Md = $YL(i)
  • ↑ $Y (renda nominal) ↑ Md
  • ↑ i ↑ Md

MOEDA REAL, RENDA REAL E TAXA DE JUROS

  • Nova condição de equilíbrio: a oferta real de moeda – estoque em bens, não apenas em dólares – é igual à demanda real por moeda, que, por sua vez, depende da renda real (Y) e da taxa de juros (i).
  • M/P = $YL(i)/P → M/P = YL(i)

A CURVA LM

  • O aumento na renda (Y→Y’) provoca, a uma dada taxa de juros, o aumento da demanda por moeda. Dada a oferta de moeda, isso faz com que a taxa de juros de equilíbrio aumente.
  • ↑ Y  ↑ Md  ↑ i
  • 2 efeitos: 1) aumento da renda faz com que as pessoas queiram deter mais moeda e 2) aumento da tx. de juros faz com que as pessoas queiram deter menos moeda.
  • Logo, a taxa de juros tem que subir até que os dois efeitos se cancelem mutuamente → quando demanda por moeda se igualar à oferta por moeda inalterada (equilíbrio)

  • O equilíbrio nos mercados financeiros implica que quanto maior for o nível do produto, maior será a demanda por dinheiro e, portanto, maior a taxa de juros de equilíbrio.
  • Essa relação nos dá uma curva ascendente → curva LM (gráfico da direita na figura acima)
  • Em suma: o equilíbrio nos mercados financeiros implica que, para dado estoque de moeda, a taxa de juros é uma função crescente do nível de renda.

DESLOCAMENOS DA CURVA LM

  • Fatores que deslocam a curva LM: variações no estoque nominal de moeda (M) ou variações no nível de preços (P).
  • Supomos um aumento da oferta nominal de moeda (M→M’), com nível de preços inalterados, onde a oferta real de moeda eleva-se de (M/P → M’/P). Para qualquer nível dado de renda (Y), esse aumento de moeda provoca a diminuição da ieq  (tx. juros equilíbrio) de i→i’
  • A curva LM se desloca para baixo

  • Portanto: o aumento de moeda desloca a curva LM para baixo; a diminuição de moeda desloca a curva LM para cima.
  • Para dada Y →  M/P ↑  i ↓

3. O MODELO IS-LM

  • Relação IS → Y = C (Y-T) + I (Y, i) + G
  • Relação LM → M/P = YL(i)
  • Equilíbrio geral: ponto em que há o encontro das curvas IS e LM, onde há equilíbrio tanto no mercado de bens quanto nos mercados financeiros.
  • O equilíbrio no mercado de bens implica que Y seja função decrescente da taxa de juros (i).
  • O equilíbrio no mercado financeiro implica que a taxa de juros (i) seja função crescente do produto.

POLÍTICA FISCAL, NÍVEL DE ATIVIDADE E TAXA DE JUROS

  • Política Fiscal Contracionista (Contração Fiscal): T↑ ou G↓ →  Yd↓  C↓  D↓  Y↓  i↓ = aumento dos impostos desloca a curva IS para a esquerda
  • Política Fiscal Expansionista (Expansão Fiscal): T↓ ou G↑ →  Yd↑  C↑  D↑  Y↑  i↑= diminuição dos impostos desloca a curva IS para a direita
  • O que ocorre com a curva LM quando os impostos sobem? Nada.
  • Os impostos não aparecem na relação LM, logo, não deslocam a curva LM.

  • Ao passo que a curva IS se desloca, a economia se move ao longo da curva LM para um novo ponto de equilíbrio.
  • A diminuição do produto e da renda, pelo efeito multiplicador, provoca redução da demanda por moeda (Md), logo, queda na taxa de juros (i).
  • O declínio da taxa de juros mitiga o efeito dos impostos mais altos sobre a demanda por bens. Basta lembrar que i↓  I↑ (mas depende do tipo de investimento também).

POLÍTICA MONETÁRIA, NÍVEL DE ATIVIDADE E TAXA DE JUROS

  • Política Monetária Expansionista (Expansão Monetária):  M/P ↑  i↓ → I↑  Yd↑  C↑  Y↑
  • Política Monetária Contracionista (Contração Monetária): M/P↓  i↑ → I↓  Yd↓  C↓  Y↓
  • O que ocorre com a curva IS quando a oferta de moeda sobe? Nada.
  • A oferta de moeda não afeta diretamente nem a oferta nem a demanda por bens.

  • Na expansão monetária, ao contrário da contração fiscal, a renda mais alta e impostos inalterados, o consumo aumenta. Com as vendas em alta e a taxa de juros em baixa, certamente os investimentos irão aumentar (de todos os tipos).
  • A expansão monetária incentiva os investimentos mais do que a contração fiscal.