Resumo do capítulo 9 do livro A Política da Mudança Climática, de Anthony Giddens – Relações Internacionais Contemporâneas – Prof. José Miguel Quedi Martins
- RIs e as mudanças climáticas: 1) acordos internacionais para conter emissões; e, 2) implicações da alteração do clima para a geopolítica.
- Manifestações de mudanças climáticas têm levado a conflitos de interesses e atritos internacionais. Exemplo: o derretimento do Ártico, agora disputado pela navegação.
- Questões ligadas às mudanças climáticas aliadas à disputa por energia podem comprometer a segurança internacional, especialmente quando Estados/grupos de Estados exploram essas alterações para seus próprios fins regionais. Exemplos:
- tentativa de preservação ou conquista de poder em lutas internas através de tensões induzidas pelas mudanças climáticas;
- atacar um país enfraquecido pelas consequências das alterações do clima;
- proliferação de conflitos armados, pela busca do controle de recursos naturais cada vez mais escassos e dos conflitos de subsistência (exemplo de Darfur).
- Darfur é considerada a primeira guerra da mudança climática, pois o ressecamento do lago Chade gerou a migração que levou ao conflito.
- Estados Axiais: nações que exercem influência significativa sobre toda uma região, como Brasil, México, África do Sul, Nigéria, Egito, Paquistão e Coreia do Sul. Quando estáveis, são apaziguadores; quando em dificuldades, afetam toda a área circundante a eles.
- Os EUA têm focado seu planejamento estratégico e militar na competição pelos recursos naturais e, por isso, observam atentamente as incursões geopolíticas chinesa e russa nessa área. Essa estratégia está baseada em uma visão pessimista acerca da futura disponibilidade de recursos vitais.
- Dentro dessa estratégia, os EUA impulsionaram um retorno ao investimento no poderio naval, pois 75% do petróleo é transportado por rotas marítimas.
- As bases militares americanas migraram para o Leste Europeu, centro da Europa, centro e SO da Ásia e algumas regiões da África, locais estes onde se encontram 3/4 das reservas mundiais de petróleo e gás natural, além de quantias de urânio, cobre e cobalto.
- A China está envolvida no Sudão, na África Setentrional, Angola, Chade e Nigéria, fornecendo equipamentos militares para essas regiões.
- Rússia e China, através SCO (Shangai Cooperation Organisation), tem contrabalanceado a OTAN no centro e leste da Ásia, pois muitos dos membros dessa organização são regiões ricas em recursos naturais. Exemplo: Cazaquistão e demais “tãos”.
Uma Comunidade Mundial Ilusória?
- O cenário pós-Guerra Fria revelou-se uma utopia, pois a crença em uma multipolaridade, onde haveria cooperação entre os países através do reforço das instituições internacionais está retrocedendo.
- O que se verifica é uma espécie de retorno a um tipo de nacionalismo autoritário, protagonizado pela China e pela Rússia e seguido pelas nações ricas em petróleo.
- Uma ordem mundial baseada nas OIs e na colaboração entre os países não passa de um sonho, para Robert Kagan, pois o que se verifica na prática são Estados nacionais fortes, nações que competem entre si, rivalidades entre as potências e disputas por recursos energéticos.
- Reemergiram os conflitos liberalismo x autocracia e islamismo radical x democracia.
- A União Europeia foi a líder nesse movimento de mudança de postura global, através da interdependência econômica e cooperação entre as nações. Chegou, inclusive, a reduzir gastos militares, crente no poder de seu projeto em detrimento do poder da força armada, que tanto assombrou a Europa em outras épocas.
- Por que o modelo implantado pela UE não poderia ser reproduzido em outras regiões?
- as associações criadas em diferentes partes do mundo (Nafta, Mercosul, ASEAN) mantiveram-se apenas como grupos soltos de comércio.
- a Rússia tratou de fechar acordos bilaterais e exercer forte influência sobre o Leste Europeu, jogando com a questão energética, o que tornou a UE suscetível.
- Extinção da comunidade internacional (Kagan): fracasso da ONU e demais OIs, motivado pela rivalidade entre autocracias e democracias aliada à disputa por energia.
- Solução: criação de um Concerto de Democracias, de caráter intervencionista, reunindo países democráticos (desenvolvidos e em desenvolvimento).
- Os países autocráticos (Rússia, China e outros) têm problemas de legitimidade; os democráticos, por sua vez, não poderão exercer influência apenas por seus valores e ideias.
- A análise de Kagan importa para os problemas de segurança energética e da mudança climática, pois as grandes potências que agem de maneira tradicional certamente entrarão em batalhas por recursos naturais, gerando conflitos. Esses conflitos poderão se acentuar, principalmente se envolverem países com potencial nuclear.
- A ONU poderia ser um árbitro para resolver esses conflitos, que, na verdade, ela deveria ajudar a evitar. Porém os países continuam acreditando na ONU, por falta de uma alternativa melhor.
- A comunidade internacional não é ilusória, pois atualmente há uma interdependência entre os países nunca antes vista e a ONU e demais organismos internacionais desempenham papel essencial na coordenação dessas relações.
- Analisando historicamente, a ONU obteve mais sucessos (ECO-92, intervenções humanitárias, gestão de conflitos) que fracassos (questão da Bósnia e Ruanda, por exemplo).
- Há um novo cenário atualmente, onde o próprio conceito de soberania se alterou e, por isso, as nações agem de uma forma diferente da do pós-guerra.
- Bush tentou reintroduzir o mundo esboçado por Kagan, onde o que importa é o poder e no qual os EUA preponderam esse exercício de poder, ignorando a ONU e demais OIs e também a mudança climática.
- O que se conclui é que os EUA, agindo como pretendia Bush (unilateralmente), não foi capaz de atingir seus objetivos: fracasso nas intervenções no Oriente Médio (mesmo com ajuda de aliados) e capacidade restrita de influenciar o mercado mundial.
- Kagan, porém, está certo ao considerar as rivalidades entre as nações que decorreriam de uma possível colaboração internacional para conter as mudanças climáticas.